Bissexualidade
*Trecho do livro "A Cama na varanda" de Regina Navarro Lins
Bissexualidade
Fernando, engenheiro, de 34 anos, é casado há cinco e tem uma filha. Procurou ajuda terapêutica por ter percebido sentir forte atração sexual por um novo colega de trabalho. "Adoro o sexo com a minha mulher, mas o tesão que estou sentindo por um homem está me perturbando. Não posso continuar assim. Tenho perdido o sono, estou trabalhando mal e em casa tenho evitado qualquer contato com minha família. Passo a maior parte do tempo trancado no meu escritório. Sempre desejei mulheres; sei que não sou gay. Não aceito estar desejando um homem, mas tenho sonhado que estou transando com ele e, o pior, sinto um prazer enorme. O que está acontecendo comigo? Tenho medo de destruir meu casamento e pavor que alguém descubra os meus desejos."
O pesquisador americano Alfred Kinsey acredita que a homossexualidade e a heterossexualidade exclusivas representam extremos do amplo espectro da sexualidade humana. Para ele, a fluidez dos desejos sexuais faz com que, para cada heterossexual, exista pelo menos uma pessoa que sinta, em graus variados, desejo pelos dois sexos. Na pesquisa feita pelo americano Harry Harlow, mais de 50% das mulheres, numa cena de sexo em grupo, engajaram-se em jogos íntimos com o mesmo sexo, contra apenas 1% dos homens. Entretanto, quando o anonimato é garantido, a proporção de homens bissexuais aumenta a um nível quase idêntico.
Os bissexuais sempre foram acusados de indecisos, de estar em cima do muro, de não conseguir se definir. Os heterossexuais costumam ver a bissexualidade como um estágio e não como uma condição alcançada na vida. Muitos gays e lésbicas desprezam os bissexuais acusando-os de insistir em manter os "privilégios heterossexuais" e de não ter coragem de se assumir. Por isso, é comum esconderem sua dupla orientação na tentativa de se proteger das críticas.
Em 1975, a famosa antropóloga Margareth Mead declarou: "Acho que chegou o tempo em que devemos reconhecer a bissexualidade como uma forma normal de comportamento humano. É importante mudar atitudes tradicionais em relação ao homossexualismo, mas realmente não deveremos conseguir retirar a carapaça de nossas crenças culturais sobre escolha sexual se não admitirmos a capacidade bem documentada (atestada no correr dos tempos) de o ser humano amar pessoas de ambos os sexos."
Marjorie Garber, professora da Universidade de Harvard, que elaborou um profundo estudo sobre o tema, compara a afirmação de que os seres humanos são heterossexuais ou homossexuais às crenças de antigamente, como: o mundo é plano, o Sol gira ao redor da Terra. Acreditando que a bissexualidade tem algo fundamental a nos ensinar sobre a natureza do erotismo humano, ela sugere que, em vez de hetero, homo, auto, pan e bissexualidade, digamos simplesmente sexualidade.
Desde os anos 90 fala-se muito em bissexualidade. A manchete de capa da revista americana Newsweek de julho de 1995 era: "Bissexualidade: nem homo nem hetero. Uma nova identidade sexual emerge." É possível que num futuro próximo, com a dissolução da fronteira entre o masculino e o feminino, as pessoas escolham seus parceiros amorosos e sexuais pelas características de personalidade, não mais por serem homens ou mulheres. A bissexualidade poderá se tornar, então, bastante comum. A ponto de predominar.
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