ENTREVISTAS - SEX AND THE CITY O FILME



SARAH JESSICA PARKER

Em conversa realizada em Nova York, a atriz revela que os fãs de "Sex and the City" costumavam pedir conselhos sobre sexo para ela.

QUEM: Qual foi a sensação de voltar ao personagem Carrie Bradshaw, quase cinco anos após o final do seriado "Sex and the City"?
SARAH JESSICA PARKER: Dizer que foi uma delícia não descreve nem metade da experiência pela qual passei. Eu teria que dizer que foi algo milagroso – e inesquecível. Por muito tempo o filme ficou emperrado e parecia que não ia acontecer nunca. Foi um verdadeiro privilégio quando recebemos a luz verde para filmarmos. Nunca perdi a esperança, mas sabia que seria muito difícil do filme acontecer se tivéssemos que esperar mais três anos. Era poder voltar agora ou nunca mais.

QUEM: Qual foi seu pior obstáculo?
SJP: Foram dois. Primeiro foi achar um estúdio para financiar e distribuir o filme. Depois foi conseguir um orçamento adequado. Nova York é uma cidade fenomenal e fotogênica, mas filmar nela é caríssimo por causa de complicações logísticas. Nossa equipe também seria muito maior do que a usada no seriado, assim como estaríamos lidando pela primeira vez com um tipo diferente de câmera. Como havia sido produtora do seriado e como foi minha idéia fazer o filme, achei que era minha responsabilidade de assumir o cargo de produtora e cuidar para que o trabalho de todo mundo fosse respeitado e que salários fossem pagos de acordo. Mas confesso que, por alguns momentos, fiquei em pânico. Recebemos do estúdio a luz verde para seguir em frente com o projeto apenas quatro semanas antes de as filmagens começarem. Mas nossa equipe foi maravilhosa. Patricia Field, por exemplo, mesmo sabendo que o filme era apenas uma promessa de acontecer, começou a selecionar o figurino muito antes de recebermos o OK do estúdio.

QUEM: Surgiram alguns rumores de que Kim Cattrall não queria voltar por causa de salário. Ela teria considerado a proposta que teve aquém do que achava justo.
SJP: Sim. Kim disse inúmeras vezes que não estava feliz com a proposta salarial que teve. Foi chato esse entrave, mas respeitamos a decisão dela. Profissionais com certas habilidades precisam ser pagos de acordo. Isso é indiscutível. Eu lutei árduamente para que ela tivesse o salário que queria, assim também como lutei bastante para que Cynthia (Nixon) e Kristin (Davis) fossem pagas de acordo e que se sentissem queridas no set. Afinal de contas, esse é um trabalho de equipe e nenhuma dessas atrizes e mais ou menos importante que a outra. Todas eram essenciais à história.

QUEM: Os fãs criaram um verdadeiro pandemônio durante a filmagem das cenas externas em Nova York. E um dos problemas foi que todo mundo ficou sabendo, meses antes de o filme ficar pronto, que Carrie não só iria se casar no filme, como também o vestido de noiva que ela usaria. Como vocês lidaram com interferências desse tipo?
SJP: Bem, foi realmente como descreveu: um pandemônio. Muito se especulou na internet sobre o casamento de Carrie no filme. Nós decidimos que não negaríamos ou confirmaríamos. E toda vez que eu dei alguma entrevista a respeito do filme, dizia que a seqüência do casamento era um sonho de Carrie (risos). Simplesmente adoro os fãs da série, eles são carinhosos, sabem os minímos detalhes da produção, mas lidar com esse contingente enquanto filmávamos nas ruas de Nova York foi uma grande dor de cabeça. Conter a multidão significou atraso e mais dinheiro que queimávamos em nosso orçamento. Em uma específica situação, ficou tão impossível filmar na rua, que tivemos de reescrever a cena para ela ser rodada em cenário interno.

QUEM: Como Carrie Bradshaw se encontra quatro anos depois?
SJP: Carrie e suas amigas estão mais velhas, mais sábias e têm expectativas diferentes na vida. Carrie chegou a um momento de extremo contentamento. Ela trabalhou duramente para construir um relacionamento de sucesso com o homem que ela acha ser seu princípe encantado, aquele que ela acredita que vai viver para sempre a seu lado. O lado profissional também vai bem: ela lançou vários livros e prepara mais um. É claro que, nesse período, algumas de suas amigas construíram uma nova vida com família e crianças ou, no caso de Samantha, se mudou para outra cidade. Mas Carrie vive extremamente satisfeita com seu romance com Mr. Big. Infelizmente, dissabores acontecem e Carrie enfrenta um. A grande diferença entre série e filme é como Carrie reage à crise. Como muito tempo se passou, ela é mais madura e sofre mais, pois deixar de ter alguém que você ama ao seu lado, aos 40 anos, é um processo muito mais paralisante do que quando você é mais nova.

QUEM: Você acha que Carrie Bradshaw ficou mais careta no filme?
SJP: Não sei se a interpreto assim. Carrie ficou mais madura e ela coloca um peso diferente em relacionamentos agora. Fazer um filme sobre quatro mulheres que caem na noite de Nova York para encontrar homens não faz mais sentido agora. E Carrie é uma dessas personagens especialíssimas e marcantes. Não podíamos traí-la, não podíamos impedir que ela amadurecesse.

QUEM: Por que Carrie insiste em ficar com Mr. Big, um homem que claramente tem problemas de relacionamentos mais duradouros?
SJP: Mr. Big é o amor da vida dela. Carrie é completamente apaixonada por ele. Assuntos do coração não são uma ciência exata, embora eles rendam ótimos dramas literários (risos). Particularmente, eu concordo com o consenso geral de que Mr. Big não é o homem certo para Carrie. Jamais me enxergaria na posição dela, de ficar abanando meu rabinho toda vez que o homem que eu amo resolve jogar um ossinho no chão para mim. Não, não, não. (risos)

QUEM: Você é casada há 13 anos com o ator Matthew Broderick. Como é o segredo para de uma união tão duradoura?
SJP: São tantos que eu teria que escrever uma grande lista. Mas em qualquer relacionamento, mesmo que seja só de amizade, você tem que ter um compromisso de que vai dar o melhor de si para a outra pessoa, que vai respeitar a outra pessoa, que vai ouvi-la e que você vai discordar dela quando for necessário. Acho que um relacionamento é muito privilegiado quando duas partes envolvidas nele pensam da mesma forma.

QUEM: Essa união rendeu o garoto James Wilkie, de 6 anos. Você pretende ter mais filhos? SJP: É um eterno dilema responder a essa pergunta: se digo que sim, as pessoas falam “coitadinha, vai engravidar de novo” (risos). Se digo que não, comentam “uau, ela é uma mulher tão fria!” (risos)

QUEM: Como seu filho lida com o fato de os pais dele serem atores e passarem várias semanas fora de casa, num set de filmagem?
SJP: Várias vezes sentamos com meu filho para explicar o nosso trabalho. Em vez de criarmos aquela dolorosa sensação numa criança, a de que papai e mamãe têm que sair para o trabalho, dissemos a ele o quanto adoramos nossa profissão, o quanto prazeirosa ela é, e que não o estamos privando de carinho. Pelo contrário. O papai e a mamãe dele estão se reenergizando-se também com o trabalho. Acho que ele entende isso. Ele só encrespa quando tenho algum evento nortuno para ir.

QUEM: "Sex and the City" quebrou vários tabus na TV, foi a primeira vez que mulheres chiques usaram linguagem chula, e a primeira vez em que se viu uma mulher tão sexualmente faminta ser tão positiva, como é o caso Samantha. Você acha que o filme vai quebrar certos tabus também?
SJP: Acho que só pelo fato de estarmos contando a história de quatro mulheres quarentonas já é um grande tabu dentro do cinema americano (risos). Vamos lá, quem é que tem um filme como o nosso (risos).

QUEM: Quando você notou que o seriado "Sex and the City" havia se tornado um fenômeno comportamental e televisivo?
SJP – Logo em nosso primeiro ano na TV, notei que havia mais mulheres usando a correntinha com um pingente de ouro com as letras do nome dela, como a Carrie usava. Isso era uma coisa tão anos 80, mas Carrie trouxe essa moda de volta. Mas fiquei mais ciente do sucesso um pouco antes do final de segunda temporada, quando comecei a notar uma certa diferença no jeito que as pessoas se aproximavam de mim na rua. Certa vez, esperando por minhas malas no aeroporto, um executivo, todo machão, se aproximou e começou a sussurar algo em meu ouvido. Achei que ele era um pervertido, mas ele queria mesmo era me dizer o quanto adorava o show. O engraçado é que ele ficou com vergonha de dizer isso mais alto, na frente das outras pessoas.

QUEM: O que mais as pessoas te diziam na rua?
SJP: A maioria, principalmente as mulheres mais jovens, vinha me pedir conselhos sexuais. Mas sou absolutamente péssima em aconselhar qualquer pessoa. E algumas ficam zangadas quando não tenho resposta para os problemas delas. Fico imaginando se o George Clooney tem que responder tanto sobre medicina quanto eu preciso responder sobre sexo.


QUEM: Você usa roupas fabulosas no filme. Tem alguma peça favorita?
SJP: Outra coisa que sou péssima: apontar favorito. Minha mãe teve oito filhos e, vivendo nesse ambiente de igualdade, nós aprendemos a não apontar favoritos! Eu usei 81 combinações de roupas no filme. Adoro-as igual (risos). Mas gosto muito dos acessórios, tem alguns cintos que Carrie usa e que acho fenomenais.

QUEM: E os sapatos?
SJP: Sem estragar a supresa, no filme tem um Manolo Blahnik, que foi feito especialmente para a trama. Acredite, nunca a criação de um sapato foi tão discutida quanto deste sapato. O diretor queria que a cor dele combinasse com os meus olhos! Voltar a usar sapato de salto alto todo dia para filmar "Sex and the City" não foi muito fácil. Por um momento pensei: será que estou ficando muito velha? (risos) Teve uma época, quando eu fazia o seriado, que podia correr uma maratona de salto alto, voltar para casa, dormir, acordar, e correr outra maratona (risos). A alegria de quem gosta de usar salto alto é que seu pé tem memória muscular e ele sempre responde bem ao desafio.

QUEM: Há dois anos você resolveu lançar sua própria grife de roupa, a Bitten. Por que?
SJP: Não foi nenhuma proclamação do tipo: cheguei e vou revolucionar a moda. Apenas foi me dada a oportunidade de ter uma grife e eu quis usar esse privilégio de uma maneira democrática, lançando peças que não custassem mais do que US$ 20. A grande realidade é que a maioria das mulheres nos Estados Unidos não tem um salário que as permitam fazer extravagâncias na hora de comprar roupas. As Carrie Bradshaws americanas são muito poucas. Fiquei bastante determinada em discutir essa idéia da necessidade com minha grife. Não sou uma designer por natureza e meus esquetes são absolutamente rudimentares, mas eu tenho uma equipe de dois designers e a gente discute isso e eles traduzem minhas idéias com perfeição.

QUEM: Você acha que, para se livrar dessa imagem tão marcante quanto é a da personagem Carrie Bradshaw em sua carreira, você vai ter de tentar algo mais radical, do tipo Hillary Swank, e interpretar uma lutadora de boxe?
SJP: (risos). Como atriz, tudo me interessa. Talvez dar umas porradas, não muito (risos). Mas sabe uma coisa que nunca fiz e que é muito próximo a minha sensibilidade de atriz? Filme de época. Nunca fiz, sou sempre a moderna (risos). Meu sonho secreto era o de poder interpretar uma condutora de orquestra de uma outra época histórica. Minha mãe me levava para ver a orquestra de nossa cidade e eu amava, não achava nada chato.

QUEM: Você tem muitas fãs no Brasil e recentemente fez até uma campanha comercial para uma empresa brasileira.
SJP: A babá de meu filho, que também vem a ser minha amiga, é brasileira. Já fizemos um plano de eu visitar o país junto com ela e o marido, que também é brasileiro. Adoro brasileiros. Na série, escalamos a Sonia Braga, que é uma atriz que admiro desde que a vi em “O Beijo da Mulher Aranha”. Brasileiros são bonitos, têm grande senso de humor e grandes arquitetos (risos). Também adoro a comida. Fui apresentada à feijoada e à moqueca de camarão. Achei uma delícia (risos).

KIM CATRALL

QUEM: Samantha Jones sempre foi a mais icônica das personagens de "Sex and the City". Como foi intepretá-la ao longo dessa década?
Kim Cattrall: Passei por diversos estágios. Durante boa parte da série, eu estava casada, o que me ajudou muito na composição da personagem, pois me fez sentir menos vulnerável. No último ano da série, foi um pouco mais complicado, pois decidi me divorciar. Fazia tempo que não experimentava a vida de solteira e foi um grande choque ir, por exemplo, a um restaurante da moda. Tinha que enfrentar esses don juans chegando até minha mesa e lembrando de certos episódios embaraçosos de Samantha na série. E tinha de dizer a esses caras de quinta: “você poderia ser gentil o suficiente de notar que também sou um ser humano e gostaria de ter um momento só para mim”. (risos)

QUEM: E como foi voltar a experimentar Samantha no filme, depois de um hiato de quatro anos?
Kim: Senti-me extremamente satisfeita com o rumo que a história de Samantha tomou no filme. Ela comemora 50 anos. Estamos falando de um filme de Hollywood e geralmente essas produções tendem a mostrar cinqüentonas de uma maneira muito inapropriada: elas são amargas ou tristes ou se trancam no banheiro para chorar a juventude perdida. Tenha dó. Samantha, por sua vez, é incrível. Eis uma mulher feliz com si mesma, que assopra a velinha, tira a de número 5 de cima de bolo e ataca a cobertura de morango. Adoro este espírito de Samantha ao 50: está tudo OK e ela se sente fa-bu-lo-sa (risos). O filme responde muitas perguntas que ficaram em aberto no final da série. Outro fato que gostei bastante é que Samantha termina a série monógama e, no filme, ela fica solteira. Fiquei muito surpresa com o fato de Michael Patrick deixar Samantha terminar a série daquele jeito. De todas as personagens do seriado, achava que ela era a mulher que mais merecia ter terminado livre e desimpedida.

QUEM: Você acha que o filme é mais conservador do que a série, uma vez que Samantha faz menos sexo e não trai o namorado?
Kim: A natureza do seriado era ir a fundo nas questões sobre o sexo. Acho que quebramos muitos tabus sobre sexo, especialmente pelo fato de o seriado ter surgido uma década após os anos 80, quando fazer sexo com parceiros desconhecidos se tornou uma experiência aterrorizante e você até podia morrer disso. E ai surge Samantha, pregando o apetite sexual e com essa enorme energia e positividade. Mas acho que existem outras maneiras de você ser audacioso, sem ter que repetir situações que já tínhamos feito na série. Na minha opinião, as quatro amigas aparecem totalmente nuas no filme. Elas se livraram da fantasia em que viviam, elas têm que lidar com a dura realidade da perda de uma grande paixão, de serem traídas e de se sentirem insatisfeitas. Considero um ato de grande fé quando Samantha abandona o namorado. É algo extremamente assustador para uma mulher de 50 anos decidir romper um relacionamento amoroso.

QUEM: Samantha começa o filme morando em Malibu, Califórnia, onde ela ajuda a carreira em ascenção do namorado ator. Mas ela não se adapta e volta para Nova York. Por que você acha que ela faz isso?
Kim: De todas as personagens de "Sex and the City", Samantha é a que mais pertence à Nova York, pois ela é cheia de energia, é inspirada e espontânea, como a cidade. Por ser espontânea demais, ela precisa de uma cidade grande. Los Angeles é muito complicada para uma mulher bem sucedida: você tem que ter carro, tem que arranjar babá, o personal trainer tem que vir à sua casa, você precisa prestar atenção no que bebe e nos lugares que freqüenta. Em Nova York, é só assoviar alto e gritar: táaaaaaxi! (risos)

QUEM: O que há de especial sobre Nova York?
Kim: Para mim foi o fato de ser o meu primeiro destino para o qual eu fugi (risos). Aos 16 anos, deixei minhas casas na Inglaterra e no Canadá para freqüentar uma escola de teatro em Nova York. Foi nesta cidade que tive meu primeiro apartamento e minha primeira conta bancária. Sempre fui muito sentimental em relação a Nova York, e mesmo morando hoje outra vez no Canadá, mantenho meu apartamentozinho aqui.

QUEM: Quando Samantha finalmente volta à Nova York, ela surpreende as amigas com uma novidade: vários pneuzinhos na barriga! Você precisou engordar alguns quilos para fazer aquilo?
Kim: Não, graças a Deus! Eu não dei uma de Robert De Niro em "O Touro Indomável" (risos). Nós não tínhamos muito tempo para filmar e nem rodamos o filme em ordem consecutiva. Para isso, eu teria que engordar, emagrecer, engordar, emagrecer, o que deixaria todo mundo – eu incluse - maluco. Usamos uma dublê de corpo, que na verdade é minha maquiadora. Nas cenas em que apareço de corpo inteiro, uso um jeans Roberto Cavalli apertadíssimo, assim como um sutiã e um mini top que me apertam e dão a sensação de que estou explodindo. Posto isso, eu ainda inflava minha barriga o máximo que podia.

QUEM: A Hollywood atual é obcecada pela juventude, mais e mais atrizes fazem o uso de plásticas e botox, e eis que vocês quatro surgem no filme com o rosto intacto, ruguinhas a mostra.
Kim: Mas é por isso que eu não vivo mais em Los Angeles. É muita obsessão pela beleza. Não que você não tenha mulheres com os rostos alterados no Upper West Side de Manhattan ou em Paris ou no Rio de Janeiro. Acho esse culto pelos atores jovens entediante. É claro que existem jovens atores e atrizes lindos de se olhar e muitos nem são tão estúpidos, mas a maioria é totalmente bitolado e narcisista. Acho isso totalmente desinteressante. Adoro ver filmes em que atores e atrizes se permitiram envelhecer graciosamente. Quero aparentar-me bem quando ficar velha, mas jamais quero ficar parecida com o Michael Jackson.

QUEM: Então plástica é uma alternativa que descarta?
Kim: Muitas mulheres de minha idade recorrem ao Botox. Pode até ser. Existe uma grande diferença entre fazer uma aplicação de botox e você ficar parecendo o Coringa do Batman. Plástica eu acho uma coisa muito extrema, acho que não conseguiria. Quero ficar velha e parecida com a Judi Dench, que eu acho uma mulher linda e deslumbrante. Quero aparentar-me bem, é claro, mas acho que o segredo é fazer uma dieta balanceada, exercícios, relaxamento e tirar muitas férias.

CYNTHIA NIXON

QUEM ACONTECE – Qual seria as principal diferença entre a série Sex and the City e sua versão para o cinema?
Cynthia Nixon – Se você olhar para a minha personagem no primeiro capítulo da série e nos episódios subseqüentes, você vai notar que Miranda é uma pessoa hilária, mas também muito amarga. Ela é cínica, cáustica e pessimista. Acredito que Miranda imprimiu o tom da primeira temporada. Esse cinismo e essa fúria da personagem foi mudando ao longo dos anos, porque começamos a ver suas fraquezas, suas inadequações, sua mágoa. Como Miranda, a série foi ficando mais sombria, sem perder o cinismo inicial. No filme, esse lado sombrio continua, mas menos cínico, pois as personagens estão mais tristes e mais emotivas. Isso é um sinal do amadurecimento delas, de que a vida as ensinaram algumas lições.

QUEM ACONTECE – Como você encarou as críticas que o seriado teve em seu primeiro ano de exibição?
Cynthia – As pessoas ficaram muito chocadas quando "Sex and the City" começou a ser exibido na TV por causa do linguajar chulo e explicíto e por causa das inúmeras cenas de sexo. Levou um tempo para as pessoas se acalmarem e se ajustarem a esse mundo. Os críticos sempre tentaram desmontar esse mundo, dizendo que as quatro mulheres do show eram, na verdade, uma representação dos homens gays. Para os críticos, mulheres não agem desse jeito, pois basicamente eles tem uma visão simplista. Se você é uma garota legal, inteligente e sofisticada, você é a virgem. Se você faz muito sexo, você é uma tremenda vagabunda (risos).

QUEM ACONTECE – Quantas mulheres realmente ajudaram a escrever os episódios do seriado?
Cynthia – Isso vai surpreender muita gente. Tínhamos muito mais mulheres do que homens. No primeiro ano, eram dois roteiristas homens e cinco mulheres. Depois ficou só o Michael Patrick King e sete mulheres. Teve uma época em que os produtores queriam ter mais cineastas mulheres dirigindo o show, para dar um toque ainda mais feminino. Mas logo eles abandonaram essa idéia tola. O show era muito mais cômico no começo e depois foi ficando mais sombrio, mais triste, mais emocional, mais introspectivo. Achei essa evolução genial. Se você for olhar as colunas que Candace Bushnell escreveu e nas quais o seriado foi baseado, você se depara com textos bem escritos e bem humorados, mas também com uma visão lúgubre, com homens e mulheres bastante alienados. As roteiristas da série e mais Michael Patrick conseguiram encontrar um jeito de mostrar esse mundo de homens vindo e partindo na vida das mulheres. E como mulheres conseguem criar essa forte teia de apoio e que elas repassam uma para a outra em momentos em que alguma está de coração partido.

QUEM ACONTECE – No filme você tem uma bem explícita cena de sexo com seu marido Steve (David Eigenberg). É desconfortável filmar cenas assim?
Cynthia – Sim. Existe uma certa dose de desconforto. Tem que haver, a não ser que você seja um total exibicionista (risos). Mas, ao contrário de muitas atrizes, eu não me importo quando me pedem para tirar a roupa. É claro que eu quero saber porque tal cena é importante à história e se eles vão filmá-la num nível que eu acho aceitável. Posto isso, faço sem grilos. Todas as vezes que Miranda faz sexo na série ou no filme, as cenas foram totalmente apropriadas. E francamente, quando você entra para um show chamado "Sex and the City", você não vai querer fazer cenas de sexo usando camiseta ou calcinha. Quem faz sexo assim?

QUEM ACONTECE – Você acha que o show teve impacto no comportamento das nova-iorquinas?
Cynthia – Sim. Hoje se espera que as mulheres solteiras que procuram por relacionamente se vistam impecáveis, que tenham boa manicure e um corpo em forma. Mas eu não acho que geramos esse comportamento. Vejo mais o seriado refletindo e propagando um comportamento que já estava brotando. Um indicativo muito claro de que esse processo estava acontecendo foi o incrível boom econômico que Nova York experimentou nos anos 90. As pessoas tinham tanto dinheiro – e ainda têm – que elas não sabiam aonde gastá-lo. Então aumentou essa oferta de artigos de luxo exclusivos e de preços exorbitantes.

QUEM ACONTECE – O que faz Nova York ser tão especial?
Cynthia – Nasci e fui criada em Manhattan, então sou um pouco suspeita para responder essa pergunta (risos). Mas o que eu não canso de gostar de Nova York é esse biproduto que a cidade se tornou por causa das diversas culturas que aqui se instalaram. Quando vou para Los Angeles não tenho essa sensação de que estou me misturando por entre pessoas, a não ser que eu vá a uma festa. Enquanto, em Nova York, você está sempre trombando com pessoas na rua, no metrô e no ônibus. Por ser uma cidade totalmente internacionalizada, estamos expostos a uma cultura mais rica e temos lojas e restaurantes fabulosos.

QUEM ACONTECE – Você acha que o show mudou sua percepção a respeito da moda?
Cynthia – Sim, muito. Destesto sair para fazer compras de roupas, até para o meu filho (risos). Mas sempre achei que tinha um ótimo olho para roupas e como combiná-las. Ai entrei para o universo Sex and the City e, na primeira festa, você vai parar num mundo de Alfa Romeos e o que você está usando pe um carrinho feito de cartolina. Hora de ir para casa me trocar! (risos) Para mim, Sex and the City foi como entrar para as Olimpíadas da Moda. Pat (Patricia) Field nos deu uma ótima educação para competir nesse mundo. Ela nós ensinou como brincar e combinar roupas, não gastar muito dinheiro, e, o mais importante, não deixar a roupa usar você. O resultado de fazer o show é que hoje eu tenho um guarda-roupa impecável com todas essas roupas maravilhosas que ganhei durante o seriado e o filme. Mas continuo detestando fazer compras (risos).

QUEM ACONTECE – Há dois anos você foi parar na capa dos tablóides por assumir um romance com outra mulher, após se separar de seu marido, com que vivia há 15 anos. Como enfrentou esse período?
Cynthia – Foi algo surreal, caótico. De repente, estou na capa de dois grandes jornais de Nova York, que anunciavam meu romance com uma mulher. Tinha paparazzi na porta da minha casa, na porta da casa da minha namorada, dos familiares dela. A mãe de minha namorada, que vive numa ilha isolada no estado de Washington, foi visitada por um jornalista inglês que estacionou seu Land Rover no precioso gramado dela! Eles ligaram para cada pessoa que freqüentou a mesma faculdade que minha namorada. Foi extremamente desagradável. Não sabia o que fazer. Procurei uma assessora de imprensa e perguntei a ela como devia agir. Ela me disse: “Cynthia, se perguntarem, você nega ou diz ‘sem comentários’”. Decidi procurar uma segunda assessora, essa gay, que me disse: “Cynthia, se você não tem vergonha da sua namorada e se você acredita nesse romance, porque não vir a público?” Esse último encontro foi uma revelação, me senti tola em não ter confirmado isso imediatamente. Num próximo evento que participei, um jornalista me perguntou e falei que estava apaixonada pela minha namorada. Fui deixada em paz! Paparazzi sumiram da minha vida (risos). Os jornais criaram esse estardalhaço todo porque o show foi tão popular em Nova York que ficou muito difícil para jornalistas distinguirem nós atrizes das personagens. Para eles não foi nada do tipo: o que está acontecendo com Cynthia Nixon, mas sim: vejam só o que Miranda decidiu fazer! (risos)

QUEM ACONTECE – Você acha que os gays ainda sofrem preconceito?
Cynthia – Em parte, sim, mas eu sou bastante esperançosa sobre essa questão. Muito embora existam segmentos ultra-religiosos de nossa sociedade que condenem o homossexualismo – e não sei o que dizer sobre essas pessoas -, há uma maior visibilidade e aceitação para os gays. Se compararmos 1998 com 2008, ficaremos bem surpresos com o que se foi conquistado em termos de direitos civis para gays.

KRISTIN DAVIS

QUEM: Como foi voltar ao set de "Sex and the City"?
Kristin Davis: Um sonho. Para falar a verdade, de todas as atrizes do filme eu sou a mais esperançosa (risos). Sabia que o filme ia acontecer. Nossa primeira cena juntas foi andando pela Park Avenue e foi incrível. Os fãs assobiavam, tiravam fotos e os paparazzi corriam para todos os lados, como galinhas sem cabeça (risos).

QUEM: Como descreve Charlotte, quatro anos depois?
Kristin: Charlotte adotou uma garota chinesa e ela está feliz e muito concentrada na tarefa de ser mãe. Esse novo desdobramento na vida dela, a torna mais calma, mais relax. No final do seriado, Charlotte não estava bem, ela se encontrava insegura e murchinha porque não conseguia engravidar. O problema de infertilidade é muito comum em minha faixa etária e eu acho legal que tenhamos discutido isso no filme. Em determinado momento do filme, algo que acontece à Charlotte dá um pouco de esperança para mulheres que tomam injeções de hormônio. Quem viu o trailer atentamente ou leu revistas de fofocas com fotos do set, sabe do que eu estou falando. (risos)

QUEM: Qual seria a maior contribuição deixada pelo seriado "Sex and the City"?
Kristin: Acho que tentamos tirar um pouco a poeira de cima da idéia puritana de que mulher não discute pormenores de sua sexualidade com as amigas. Talvez mulheres usem um outro linguajar para falar sobre sexo, mas que elas discutem entre si, isso elas fazem. No início meus amigos ficaram chocados ao ouvir os diálogos do seriado. Foi o choque de algo novo na TV e isso abriu uma discussão muito positiva. Recentemente eu fui a convidada de honra do (designer) Michael Kors ao evento de gala do Metropolitan Museum e me encontrei com vários designers. Todos, sem exceção. comentaram como "Sex and the City" impulsionou o negócio deles. Foi muito bacana ver essa popularização da moda no seriado acontecer tão naturalmente, pois nunca saímos com a proposta de fazer um show para vender sapatos ou roupas.

QUEM: Você se lembra de como foi convidada para integrar o elenco do show?
Kristin: Mas é claro. Darren Star, o produtor da série, me mandou o roteiro para eu ler. Ele queria que saber como eu me sentiria interpretando Carrie Bradshaw. Sarah Jessica Parker já havia sido sondada, mas ela estava um pouco receosa de fazer uma série de TV. Li o roteiro e pensei comigo mesma: eu não posso intepretar Carrie. Originalmente a personagem era muito mais agressiva sexualmente, como Samantha. Carrie era muito mais próxima da mulher na qual ela foi baseada, a jornalista Candace Bushnell. Ela fumava, bebia, praguejava e gesticulava muito. Quando fui conversar com Darren, disse que gostaria de fazer aquela garota comportada que trabalhava numa galeria de arte. Foi uma experiência da qual eu não me arrependo e que nunca mais vou esquecer.

QUEM: Alguma vez tentou mudar algo que não gostasse na personagem?
Kristin – Na verdade, sim. Minha única frustação a respeito de Charlotte na série foi durante o hiato entre os dois casamentos dela. Nesse período, ela conheceu alguns novos caras, todos babacas. Achava que, nesse determinado momento da série, ela deveria ser mais raivosa. Eu queria que ela dissesse umas verdades para aqueles babacas, mas Michael Patrick King não deixou, apesar de eu explicar para ele que qualquer mulher naquela situação explodiria por dentro. Michael Patrick me disse que Charlotte era diferente das demais personagens da série, que ela tinha que reagir de outra maneira, ela poderia reclamar para as amigas sobre seus problemas com os homens, mas nunca confrontá-los diretamente. Agora, no filme, eu tenho uma cena em que digo umas boas verdades na cara do Mr. Big. Achei que aquilo foi um presente pelo tempo em que Charlotte sofreu calada.

QUEM: O filme tem bem menos cenas de sexo que o seriado e parece chocar menos. O que você acha disso?
Kristin: Acho que o filme acompanha a evolução delas. Quando foi anunciado que "Sex and the City – O Filme" ia ser mesmo acontecer, um jornalista escreveu: “oh, não, lá vem essas predadoras outra vez, correndo atrás de homem como se elas tivessem 25 anos de idade!” (risos). O filme não tem nada disso, pois elas estão mais maduras e em outra fase da vida delas. O filme é sobre como as mulheres amadurecem e como o foco de atenção delas muda: algumas querem ter filhos, outras querem se casar e outras decidem investir e tentar consertar um relacionamento em crise. Chocar a platéia não faz mais sentido, pois já fizemos isso na série e não queríamos virar uma caricatura de nós mesmas. Acho que Michael Patrick foi bastante esperto a este respeito.

QUEM: Muitos rumores brotaram a respeito das desavenças entre as atrizes no set. Isso tem alguma base na verdade?
Kristin: Claro que não, e foi muito chato isso. Paparazzi vinham tirar fotos da gente no set. Eles conseguiam uma imagem de uma atriz franzindo a testa ou gritando ao falar ao telefone com algum familiar ou amigo, e ai publicavam que nós nos odiávamos e que nenhuma das quatro atrizes falava uma com a outra. Imagine! Se isso fosse verdade, deveríamos ganhar um Oscar. Se a gente se odiasse dessa maneira nos bastidores, seria difícil ter uma química em cena como nós apresentamos na série e no filme. Em determinado ponto, a gente estipulou que, caso quiséssemos fazer uma ligação telefônica mais acalorada, que deveríamos ir para dentro de nosso trailer. No começo até tentávamos contestar as notinhas maldosas que saiam sobre a gente, mas depois paramos. Não tem como vencer.

QUEM: Vocês quatro costuma se encontrar socialmente?
Kristin: Muito pouco. Nosso elo de ligação é muito mais via text messages. Das três, quem eu mais vejo é a Cynthia Nixon, pois nossos apartamentos em Nova York ficam a três quarteirões de distância. Depois dos seriado, fiz uma comédia com o marido da Sarah Jessica, o Matthew Broderick, e ela e o filho apareceram no set. Kim já é mais difícil de nos encontrarmos, pois ela mora no Canadá. Uma das coisas que contribui para não sairmos juntas publicamente é o pandemônio em que isso costuma resultar.

QUEM: Dê um exemplo.
Kristin: Um dia encontrei Cynthia perto da Barneys de Nova York e resolvemos ir juntas na seção de sapatos. Escolhemos o modelo que queríamos experimentar, sentamos no sofá e, de repente, os fãs começaram a se aglomerar de tal forma que parecia que estávamos num evento público que havia sido anunciado no jornal com bastante antecedência. Tivemos que sair dali rapidinho! E sem experimentar os sapatos (risos). Sempre fico surpresa quando saio para almoçar num restaurante pequeno, sem ser da moda, usando calça de abrigo toda fuleira e alguém me segue na saída. Sei exatamente quando estou sendo seguida por fãs, pois eu escuto o tic tac do sapato de salto alto delas atrás de mim! (risos)

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