E SEX CONTINUA DANDO O QUE FALAR...

REVISTA ÉPOCA

Como o seriado Sex and the City inventou a mulher moderna

Por que uma geração inteira se identifica com as personagens da série de TV e do filme que está batendo recordes de bilheteria

Martha Mendonça e Marianne Piemonte

Quatro mulheres tagarelas, instáveis, complicadas, consumistas destronaram um dos maiores heróis da história do cinema. Desde que estreou nos Estados Unidos, há pouco mais de uma semana, Sex and the City, o longa-metragem inspirado na série de TV de mesmo nome, multiplica sua bilheteria, ofuscando até Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, a aguardada volta às telas do personagem encarnado por Harrison Ford. A distribuidora Warner previa arrecadar US$ 35 milhões com Sex and the City no primeiro fim de semana nos cinemas americanos. Foram US$ 55 milhões – que geraram o inevitável tititi sobre um novo filme. Na televisão, mesmo quatro anos depois da última temporada da série, as reprises dos episódios continuam a atrair 2,5 milhões de telespectadores a cada exibição. Em Nova York, as lojas e os restaurantes que servem de cenário para os episódios são temas de passeios turísticos de agências. No Brasil, a estréia de Sex and the City estava programada para a sexta-feira 6 de junho e também se espera uma bilheteria recorde.

Por que, uma década depois de criada, Sex and the City ainda é um fenômeno? Provavelmente por ter sido a primeira, e ainda a única, série que mostra como as mulheres são – ou pelo menos como elas se vêem e gostariam de ser. Nunca antes a mulher de mais de 30 anos, cosmopolita e de classe média, fora retratada com tamanha fidelidade em suas conquistas e contradições. Todas as vezes que Carrie, Samantha, Miranda e Charlotte, o quarteto fantástico de Manhattan, sentavam-se num bar e pediam um Cosmopolitan – coquetel à base de vodca e suco de cranberry, uma espécie de amora –, milhares de mulheres no mundo reconheciam a si mesmas ou a alguma amiga, prima ou vizinha. Que mulher desta geração não se viu, em alguma fase da vida, questionadora como Carrie, romântica como Charlotte, sarcástica como Miranda ou caçadora como Samantha?

Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha viraram ícones num momento em que as mulheres buscavam novas referências, passada a época da dedicação à família e a revolução dos sutiãs queimados. Nem tanto o fogão, nem tanto a selva do mercado. Daí a paixão sem fim por personagens que, ao mesmo tempo, pagam as próprias contas, correm atrás do amor e não sentem culpa por gastar uma fortuna num par de sapatos. “Essa é uma geração de mulheres que querem viver suas próprias fantasias. Solteiras, namorando ou casadas, querem ser donas de suas próprias vidas. Querem amar os homens que escolherem e comprar as roupas que quiserem”, afirma a sexóloga Pepper Schwarz, da Universidade de Washington, em Seattle. “As protagonistas de Sex and the City são ícones de um pós-feminismo que acreditam que os direitos da mulher já estão garantidos e que é hora de ir atrás dos sonhos individuais”, diz Márcia Messa, mestre em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Ela elegeu a série como tema de sua tese de mestrado, “Sex and the City e o Pós-Feminismo”.

"Mas você tem algum plano?
Não, eu tenho um vestido"
SAMANTHA E CARRIE,
sobre um encontro com Big

As quatro personagens foram criadas pelo produtor Darren Star. Responsável por bem-sucedidas séries de televisão protagonizadas por adolescentes, como Barrados no Baile e Melrose Place, Star já mostrara nesses êxitos anteriores a sensibilidade necessária para “pegar pela mão” uma geração. Star, homossexual assumido, também fez uma série com forte apelo entre os gays. Na série, as quatro personagens têm amigos homossexuais, que funcionam como uma espécie de terapeutas de plantão. O filme foi escrito, produzido e dirigido por outro gay assumido, Michael Patrick King, roteirista de grande parte dos episódios da série original. A crítica americana notou diferenças entre a série da TV e sua transposição cinematográfica. “Girls gone mild” (algo como “Garotas que ficaram calmas”) foi o título da revista Newsweek, um trocadilho com a expressão “girls gone wild” (“garotas que piraram”).

Em 2000, dois anos após o início da série (que durou até 2004 e ganhou sete Emmys, o Oscar da televisão americana), Carrie e sua turma foram capa da revista Time, com o título “Quem precisa de um marido?”. Ninguém simboliza melhor o espírito de Sex and the City que a personagem vivida por Sarah Jessica Parker. Carrie é atrapalhada e divertida. Suas amigas são donas de seus apartamentos no bairro mais caro da Ilha de Manhattan. Ela paga aluguel. Seus cartões de crédito estão sempre no vermelho. Ela ficou surpresa – e apavorada – com um homem que dormiu a seu lado e pela manhã deixou uma nota de US$ 100 ao lado dela na cama.

P.S: Quem escreveu esta matéria supôs errado, na verdade Gilles deixou 1000 dólares para Carrie em um envelope na mesinha de cabeceira.

A imagem de boêmia e festeira, sobre exuberantes saltos altos, conjuga-se com a mulher saudável que está sempre inscrita na modalidade esportiva da moda (ioga, pilates etc). Seu aluguel está sempre em dia, e ela quase nunca apela a Deus ou a seus namorados. São esses ingredientes que diferenciam a narrativa de Sex and the City de uma tragédia moderna (leia mais sobre Carrie e suas amigas nos quadros ao longo da reportagem). “Elas não estão atrás de um conto de fadas. Querem um homem, um parceiro, seja mais novo, mais velho, feio ou bonito, mas que valha a pena, as faça felizes e respeite sua individualidade”, diz a sexóloga Pepper.

No filme, as quatro garotas parecem estar apenas atrás de maridos – o que é visto por alguns fãs com certa desconfiança.

P.S: Quem escreveu a matéria se equivocou novamente...Elas não estão correndo atrás de maridos...Será que dói pesquisar sobre as coisas antes de se julgar capaz de escrever sobre elas???

Mas isso não diminui o caráter revolucionário que a série teve uma década atrás. Em 1998, falar de orgasmos ou do tamanho do pênis numa série de TV era uma ousadia. Hoje, tornou-se quase banal. Samantha e companhia fizeram muitos espectadores chocados desligar a televisão. Foi a primeira vez que se falou na TV abertamente em sexo anal, vibradores, posições, anticoncepcionais e experiências homossexuais – não houve um único episódio sem um tema polêmico. Impossível esquecer a participação especial de Sônia Braga como a namorada lésbica de Samantha. Ou as amigas invadindo a casa de Charlotte para livrá-la de sua obsessão doentia pelo rabbit (“coelho”) – um modelo de vibrador que se tornou campeão de vendas das sex shops de todo o mundo depois de aparecer no programa. “Sex and the City quebrou tabus e certamente provocou novos comportamentos em todo o mundo”, diz Amaury Mendes Junior, psicanalista que dirige a Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. “Na série, muitas vezes elas agem como o estereótipo dos homens. Samantha não se lembra dos nomes dos homens com quem transa, da mesma forma que qualquer macho galinha. Miranda foca o trabalho e tem medo do compromisso.”

Carries gostam de...

Lingerie à mostra e pernas de fora
Gastar uma fortuna em sapatos Manolo Blahnik e Jimmy Choo
(num dos episódios, ela calcula ter cerca de US$ 4 mil em seu closet)
Bolsas do tipo carteira, de Valentino e Dior
Usar colar com o próprio nome (copiado por mulheres do mundo todo)

Adriana
(Carrie)

“Eu me sinto a própria Carrie”, diz Adriana Beltrão, carioca, jornalista, de 37 anos, solteira. Ela tem todos os DVDs de Sex and the City. Assistiu assiduamente aos seis anos da série. Em Nova York, aonde vai freqüentemente, costuma procurar os cenários onde as quatro amigas se encontram. “Como ela, estou o tempo todo tentando entender o mundo, lutando pela independência emocional e financeira sem deixar de lado a vaidade, a feminilidade e a saúde”, diz. Baixinha como a protagonista da série, Adriana é amante dos saltos altos e de “roupas de qualidade, dentro da moda ou clássicas”. Nunca está sem maquiagem. “Não posso ir contra a minha natureza, mas não sou fútil. Se tiver de dormir no chão e sentar em boteco, topo”, afirma. Adriana já morou com um namorado uma vez, há alguns anos. Mas o ensaio para um casamento não deu certo. Ela diz não saber se vai encontrar o homem ideal. Diz não ser adepta do bordão “Não sou feliz, mas tenho marido”. “Viajo, saio, tenho amigas, uma boa vida. É preciso ser alguém muito especial. Ou não vale a pena”, afirma.

Pela primeira vez, mulheres em um seriado falaram sobre...

Gostar ou não de fazer SEXO ORAL

EXPERIÊNCIAS LÉSBICAS. Num episódio, Samantha examina a própria vagina no espelho, para aprender a fazer sexo oral com a única namorada de sua vida, Maria, interpretada por Sônia Braga

P.S: Quem examina a vagina com um espelho é Charlotte, pois nunca havia olhado sua genitália dessa forma...Alguém por favor me contrata para trabalhar na Época...estou desempregada e não sou obrigada...rsrsrs

SEXO ANAL e posições para torná-lo menos desconfortável

VIBRADORES em todas as suas versões. Enquanto Carrie, Charlotte e Miranda se contentam com o delicado modelo “coelhinho”, Samantha usava um massageador. Num episódio hilariante, ela vai à loja de eletrodomésticos reclamar que o dela está com defeito.

Se Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda e todas as mulheres de mais de 30 anos continuam batendo cabeça em busca do amor, é porque a discussão sobre a cara-metade atravessa gerações. Denis de Rougemont, intelectual francês, escreveu em 1939 A História do Amor no Ocidente, um famoso tratado sobre as origens do amor, em que discute a velha noção de que há uma pessoa certa para completar cada um. O livro começa citando O Banquete, diálogo de Platão em que o pensador grego Sócrates discute o amor. Um dos participantes do banquete situa a origem do amor na mitologia – ao dividir em dois grupos os seres humanos, antes metade homem, metade mulher, Zeus teria condenado a humanidade a passar a vida inteira procurando a “outra metade” por meio do amor. Rougemont encontra ecos dessa idéia seminal numa heresia medieval, o catarismo, surgido na região de Toulouse, sul da França, no século XII. Os cátaros eram herdeiros distantes do pensamento platônico. Dividiam o mundo em dois universos, um comandado por Deus, o outro por Satã. Eles punham a mulher no alto de um pedestal e consideravam o amor o supremo ideal de felicidade. Por ser um ideal intangível, esse amor jamais se realizava. Os trovadores medievais se encarregaram de espalhar a idéia do amor não consumado por meio de suas cantigas. Mais tarde, nos séculos XVIII e XIX, a noção de mulher idealizada se disseminaria pela Europa por meio do romantismo.


Samantha Jones

(Kim Cattrall) é uma superpoderosa relações-públicas de Manhattan. Ela é a única das quatro que transa “como os homens” – ou, segundo a série, como alguns homens: sem querer compromisso. Ela também tem uma experiência homossexual, sua parceira na série foi vivida pela atriz brasileira Sônia Braga. Samantha discute assuntos como vibradores e sexo anal e usa expressões cujo significado não pode ser explicado aqui – como “ganhar um colar de pérolas do namorado”

Samanthas gostam de...

Saltos altíssimos
Saias de estampas de bichos
Muito dourado
Calças coladíssimas
Longos colares Chanel
Bolsas Birkin (na série, Samantha perde uma cliente, a atriz Lucy Liu, de As Panteras, ao furar a fila de espera da bolsa usando o nome dela)
Tratamentos de beleza: num episódio, um peeling queima sua pele bem no dia do lançamento do livro de Carrie

Ana Paula
(Samantha)

Cabelos voluptuosamente cacheados ao vento, a produtora Ana Paula Amaral, de 34 anos, costuma chegar às festas da moda apenas com seu pretinho básico. Nunca sai desacompanhada. Uma troca de olhares, um drinque, uma carona e batata... “Gosto de curtir o momento e não tenho problema nenhum em dizer que gosto de sexo bom”, diz. Ana se lembra de cenas que poderiam fazer parte de algum roteiro da libidinosa Samantha. Como o dia em que contratou um adestrador para seu beagle, com quem divide um elegante apartamento nos Jardins, em São Paulo. Durante a lição de como fazer o cão não subir na cama... “Ah, pintou um clima e ele era um gostoso. Não dava para deixar passar.” Dois meses depois, Ana dispensou o adestrador: “Enjoei”.
As amigas dizem que ela vai acabar sozinha. A resposta de Ana é uma só: “Não suporto homem em casa”. Como Samantha, Ana tem duas regras básicas. A número um: manter a freqüência. “Se fico uma semana sem transar, não consigo nem trabalhar direito.” A outra é: “Prefiro me relacionar com homens mais novos”. Em média, dez anos mais novos. “Além de não virem com pacote – filhos, traumas, pensão etc. –, é só tocar que funcionam.” Fabuloso, diria Samantha.


LIBERAL
Ana Paula se identifica com a personagem de Kim Cattrall: “Homens mais novos não vêm com filhos e é só tocar que funcionam”

P.S: Arrasou Ana Paula!!!!!!Fabulous!

As mulheres de Sex and the City – que ainda é exibido em 200 países – são o oposto do ideal romântico. Elas são resultado das mudanças do olhar sobre a mulher desde a emancipação feminina, em meados da década de 60. Nas séries americanas que dominavam o mundo nos anos 70, as mulheres eram heroínas irreais. As Panteras eram três lindas detetives que não se descabelavam nem depois de enfrentar os mais perigosos bandidos. Eram solteiras, independentes e poderosas, mas não tinham vida além dessas aventuras. Uma exceção nesse período foi a série Mary Tyler Moore, um dos maiores sucessos da TV americana. No ar de 1970 a 1977, era protagonizada pela atriz de mesmo nome, no papel de uma produtora de televisão solteira e independente. No Brasil dos anos 80, a série Malu Mulher, exibida pela TV Globo, foi outra inovação. Nela, Regina Duarte vivia uma divorciada que lutava para manter o padrão de vida, estudar e criar a filha adolescente. Mas Malu era quase uma militante sindical do feminismo. Não tinha nenhum glamour.

“Eu tenho um encontro com meu vibrador”

“Você se encontra com o Mr. Big (‘Grande’). E eu, com Mister Muito Grande”

“Se nós pudéssemos fazer sexo oral com todos os caras do planeta, seríamos donas do mundo. E ainda teríamos as duas mãos livres”

SAMANTHA

Desde a segunda metade da década de 90, uma série de livros, filmes e sitcoms serviram como precursores da fórmula de Sex and the City e revelaram o potencial de consumo das mulheres urbanas e independentes de mais de 30 anos. O livro O Diário de Bridget Jones, da inglesa Helen Fielding, é considerado o marco zero da literatura-mulherzinha, ou chicklit. Inicialmente personagem da coluna semanal de Fielding no jornal londrino The Independent, Bridget virou best-seller como o estereótipo da balzaquiana em busca do amor e do sucesso profissional. Em Ally McBeal, seriado exibido na TV americana de 1997 a 2002, a protagonista-título era uma advogada na casa dos 30 anos, bem-sucedida profissionalmente, mas infeliz no amor – é bem verdade, sem um pingo da ousadia de Carrie Bradshaw e suas amigas.

Juntavam-se aí compras e romance, binômio que é a cara da mulher moderna. Em Sex and the City, pode-se dizer que o consumo é o quinto protagonista. Os modelos usados pelas personagens e as referências a produtos e grifes famosas – entre eles as célebres bolsas Dior e os sapatos de Manolo Blahnik ou Jimmy Choo – realizaram a façanha de transformar a atriz Sarah Jessica Parker (Carrie), uma baixinha, nariguda s e queixuda, em um símbolo do universo da moda, reverenciada pelos maiores estilistas do planeta. Associar apenas moda e consumo à série seria, porém, uma simplificação grosseira. As próprias personagens debatem o consumismo o tempo todo. Nesse ponto, Sex and the City teve um papel libertador para as mulheres. Num capítulo, Carrie comenta com uma amiga que tem filhos o prazer de poder comprar um sapato por US$ 485, em vez de gastar a mesma quantia com fraldas. Trata-se de algo tão ousado e libertador quanto falar de orgasmos e vibradores.

P.S: Detalhe esta conversa nunca existiu...Amigas vcs viram quantos episódios??? dois??? ou pelo menos não foi dessa forma...
Precisava chamar Sarah Jessica de nariguda e queixuda???

Charlotte York

(Kristin Davis) acredita no amor romântico, apesar de transar com meia Manhattan na busca do príncipe encantado. Contra a pressão das amigas e todos os manuais de conduta da mulher moderna, Charlotte larga a carreira numa galeria de arte para se dedicar ao segundo casamento, à maternidade e ao marido, o advogado Harry, com quem mora num elegante apartamento na região de Park Avenue.

P.S: Transar com meia Manhattan pegou pesado...

Charlottes gostam de...

Alianças e colares de pérolas da Tiffany (inspirados na personagem de Audrey Hepburn no filme Bonequinha de Luxo, de 1961)
Tons pastel e linhas retas
Saias na altura do joelho
Clássicos tubinhos Chanel

Renata
(Charlotte)

Solteira, publicitária, Renata Gervatauskas, de 31 anos, ainda ri e chora nas reprises de Sex and the City. Para ela, a série revela que as mulheres são, sobretudo, diferentes umas das outras, mas com um objetivo em comum: “ser felizes a todo custo”. Hoje, ela diz que se identifica com a meiga Charlotte. “Como ela, insisto em acreditar num amor definitivo desde que nasci. Tenho o sonho família. Pode ser coisa do passado, mas não posso mentir que é o que quero. E haja terapia, auto-ajuda, astrologia e mantras budistas para manter essa fé!”
Renata já teve sua fase Carrie, há alguns anos, quando publicava em seu blog, o Mulherzinha, suas histórias e as das amigas. “Com direito a meu próprio Mr. Big, casual dates, pedido torto de casamento e fuga. Acabei me expondo demais no blog e parei com essa história de escrever intimidades”, diz. Ela afirma que também tentou viver uma fase Samantha. “Tenho admiração por quem consegue, mas cansei de beijar bocas desconhecidas em baladas, transar só por transar”, afirma.

MEIGA
Renata se identifica com a personagem de Kristin Davis: “Como ela, acredito em amor definitivo desde que nasci”

P.S: Renata amiga pare de comer alfafa...

A vaidade, antes vista como frivolidade pelas mulheres consideradas “intelectuais” em gerações anteriores, deixou de ser um bicho feio. Moda, no caso das meninas de Sex and the City, tem relação com estilo de vida, arte, design – e até com economia. Num episódio, depois que Miranda dá à luz seu bebê, Samantha diz: “Nós, que não parimos, vamos colaborar para a economia deste país”. E sai para as compras com Carrie e Charlotte. Moda também é sinônimo de cultura. Carrie vai almoçar no museu Guggenheim, de Nova York, vestindo uma saia Dior, depois de ver uma exposição sobre a evolução da moda em Paris. A geração a que pertence Sex and the City preocupa-se, sim, com a estética, sem ter medo de parecer fútil por causa disso.

Um episódio inteiro da série discutia a relação das mulheres modernas com a vaidade. Samantha, a mais libertária das quatro, descobre um câncer de mama ao tentar implantar silicone nos seios. Isso muda toda a relação dela com o corpo. A série não hesitava em meter a mão em assuntos “desagradáveis” para a mulher vaidosa – como os excessos nas cirurgias plásticas e a “ditadura da beleza”. A protagonista Carrie é uma mulher normal, possível, como as outras, com atributos e complexos – e talvez por isso, também, tenha despertado tamanha identificação entre as espectadoras.

Sex and the City também cativou as mulheres por outro importante fator: a amizade. Para a antropóloga da UFRJ Mirian Goldenberg, autora dos livros Infiel e Toda Mulher É Meio Leila Diniz, a idéia de que as mulheres sejam competitivas entre si é um mito. “A série acerta mais do que nunca quando mostra a possibilidade de um mundo feminino, de apoio, diversão e troca”, afirma. A realidade, segundo Mirian, mostra muito mais apoio e fidelidade entre mulheres do que dá a entender o estereótipo. Atualmente pesquisando mulheres na faixa dos 50 anos para um novo livro, Mirian diz que o gosto por viver em grupo contribui para que as mulheres vivam mais e melhor que os homens. As mulheres dessa geração também puseram o grupo de amigas no lugar do núcleo familiar como centro de sua vida. No funeral da mãe de Miranda, em Filadélfia, quem a consola são as três amigas, e não os familiares.

No Orkut, site de relacionamento do Google acessado sobretudo por jovens, Sex and the City é o tema de mais de mil comunidades. Na maior delas, que leva o nome da série, há 10.800 membros, que respondem a enquetes sobre as personagens: com quem se identificam mais, que caminhos cada uma deveria ter tomado e quais as histórias mais picantes. No fórum, não há só moças. O internauta Thomas Tavares conta numa mensagem que assistiu à estréia do filme no Canadá, onde mora, e que se surpreendeu com os “fãs teenagers” que lotaram os cinemas no dia do lançamento. “Uma hora e meia antes do início, já havia filas enormes”, afirma. Na comunidade, outros integrantes procuravam o roteiro do filme. “Quero decorar as falas”, escreve Alice K. Ela se gaba de conhecer de cor várias frases famosas da série, como as que figuram nesta reportagem.

“Orgasmos não te mandam bilhetes ou seguram a tua mão durante uma sessão de cinema”
CHARLOTTE

P.S: Perderam a fabulosa chance de comentar sobre a comunidade mais sexy dentre estas. "Mulheres Sex And The City"

Nessas frases, justamente, reside um dos trunfos da série e do filme: Sex and the City é mais palavra que ação. Mulheres, inegavelmente, gostam de falar. E de ouvir histórias. A inspiração para a personagem Carrie Bradshaw, colunista do jornal New York Star, foi a jornalista Candace Bushnell. Na década de 90, Candace contava, em sua coluna no New York Observer, as aventuras e desventuras amorosas e profissionais dela própria e de amigas da alta-roda de Nova York. Quando a série estreou na Inglaterra, um crítico do jornal londrino Sunday Telegraph chamou Candace de “Jane Austen com um martíni”. A obra de Jane Austen (1775-1817), ícone da literatura inglesa, retratava o comportamento das mulheres de seu tempo – que enfrentavam uma sociedade extremamente repressora e preconceituosa. Sex and the City, com seu cotidiano nova-iorquino e histórias sobre amigas e fofocas da cidade, talvez seja vista daqui a algumas décadas como o equivalente de Jane Austen do século XXI.

P.S: Quem disse que falam mais do que fazem???

Miranda Hobbes
(Cynthia Nixon)

Advogada bem-sucedida e formada pela Universidade Harvard, assusta os parceiros com sua independência. Engravida do namorado, um barman, e decide ter o bebê por conta própria. No final, se vê enternecida pela possibilidade de ter uma família, uma casa grande com cachorro, marido e uma empregada de origem hispânica. É a “amiga forte”, que segura as pontas quando todas as outras desmoronam. No funeral da mãe, foi confortada pelas amigas – e não pelas irmãs ou pela família.

P.S: Desde quando a Magda tem origem hispânica???

Mirandas gostam de...

Roupas de cores neutras
Cabelos curtos e elegantemente desfiados
Ternos bem cortados (mas não tão ajustados)
Escarpins
Skinny jeans (peça justa, popularizada pela série)

Fabiana
(Miranda)

Fabiana Avelar atende o telefone ofegante. “Tenho uma reunião agora e outra daqui a uma hora. Você pode me ligar depois?”, diz. Aos 30 anos, solteira, paulistana radicada no Rio, ela é gerente de negócios ambientais de uma multinacional. Sua função é coordenar equipes de todo o Brasil na destinação de resíduos. Ela afirma que não trabalha menos de 15 horas diárias: “Durmo no máximo quatro horas por noite”. Dá cursos na área ambiental e, no ano passado, abriu sua própria empresa de consultoria. Com tanto empenho, confessa que a vida pessoal ficou para trás. “Sou durona e busco o que é meu. Mas sou sensível e romântica também”, afirma. Namorados sérios, diz que teve apenas dois. Conta que sempre achou a maioria dos homens “imaturos” e muitas vezes “desinteressantes”. Hoje ela tem recursos e o desejo real de ter um companheiro e filhos, mas diz que perdeu o timing. “Quero achar alguém, mas não quero mudar um milímetro da minha vida profissional. Procuro me preparar para eventualmente ficar sozinha.”

OCUPADA
O perfil de Fabiana lembra a personagem de Cynthia Nixon

P.S: Não copie a Miranda...Fique sozinha...

A longevidade e o sucesso de Sex and the City são proporcionais à capacidade que a série teve de fazer perguntas. Questionar cada relação, comportamento, palavra ou combinação de cores. Carrie sentava-se na cama ou na escrivaninha do quarto, olhando a lua da “maior cidade do mundo”, e perguntava a si mesma: como não me abrir tanto nos relacionamentos? Devo telefonar para ele ou esperar? Ter filhos ou comprar sapatos? Ficar com o doce Aidan ou lutar pelo fabuloso Mr. Big? Do lado de cá da tela, no mundo inteiro, milhões de mulheres fizeram as mesmas perguntas, e outras. Se não há respostas prontas, melhor: mais um bom motivo para sair e encontrar as amigas.

Participações especiais

SÔNIA BRAGA
Participou de três episódios do quarto ano como Maria, uma artista plástica brasileira que namorou Samantha

JON BON JOVI
Na segunda temporada, o músico-ator-modelo-gatão entrou na série para viver um rápido caso com Carrie, depois de ela levar o primeiro grande fora do namorado Big

GERI HALLIWELL
A Spice Girl apareceu rapidamente na sexta temporada como Phoebe, uma socialite inglesa que despertava a inveja de Samantha.

LUCY LIU
A atriz de As Panteras representou ela mesma. Ela contrata Samantha como relações-públicas na quarta temporada, despede-a quando Samantha usa seu nome para conseguir uma bolsa Birkin – e fica com a bolsa para ela.

Onde as garotas se encontram

Não é preciso ir a Nova York para se sentir dentro de Sex and the City. Abaixo, alguns endereços cariocas e paulistanos dignos das protagonistas da série.

SÃO PAULO

NO CAFÉ-DA-MANHÃ
Um sanduíche croque-monsieur da Deli Paris ou um bufê da St. Etienne nas mesinhas da Vila Madalena podem inspirar longas conversas sobre homens, sexo e homens

PARA TOMAR UM DRINQUE
O Cosmopolitan do Spot continua imbatível na cidade. O difícil é conseguir bom sexo depois...

PARA DANÇAR ATÉ DERRETER
O ABC Bailão é uma boate gay, underground, debaixo do Minhocão, o viaduto que corta o centro da cidade. Famosa pelo set list (o repertório), que vai de Madonna a Barry White, é boa para uma “noite de meninas”, em que se pode dançar até o cabelo colar no rosto sem se preocupar em fazer “carão” para olhares másculos.

PARA CAÇAR
O Myntloung é povoado de modelos (definição: mulheres altas com menos de 50 quilos). É preciso ser amigo de alguma Samantha Jones para entrar. Ali se encontram os partidos típicos de Charlotte, solteiros belos e endinheirados

RIO DE JANEIRO

PARA UM BRUNCH
O Celeiro, no Leblon, é o lugar da mulherada. De quebra, pode-se dar de cara com famosas, como Malu Mader ou Carolina Ferraz

PARA O PAPO URGENTE
Com deliciosos drinques e boa música, o Londra, bar e restô dentro do Hotel Fasano, é o ideal do happy hour em diante

O JAPA DELAS
O Sushi Leblon é a varanda mais disputada da Dias Ferreira, com menu que vai muito além do peixe cru. A hora do almoço é para ficar de olho nos executivos

PARA ENTRAR PELA MADRUGADA
O Clubinho 69, no ponto gay da Farme de Amoedo com Prudente de Moraes, em Ipanema, tem festas com os melhores DJs da cidade e repertório que vai da música eletrônica ao revival dos anos 70

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