ELZA SOARES & MANÉ GARRINCHA - AMOR E SOFRIMENTO
Elza da Conceição Soares nasceu em 23 de Junho de 1937 no Rio de Janeiro. Filha de uma lavadeira e de um operário, foi criada na favela de Água Santa, subúrbio de Engenho de Dentro.
Cantava, desde criança, com a voz rouca e o ritmo sincopado dos sambistas de morro. Aos 12 anos, já era mãe e aos 18, viúva. Foi lavadeira e operária numa fabrica de sabão e, com 20 anos aproximadamente, fez seu primeiro teste como cantora, na academia do professor Joaquim Negli, sendo contratada para cantar na Orquestra de Bailes Garan e a seguir no Teatro João Caetano.
Em 1958, foi a Argentina com Mercedes Batista, para uma temporada de oito meses, cantando na peça Jou-jou frou-frou. Quando voltou, fez um teste para a Rádio Mauá, passando a se apresentar de graça no programa de Hélio Ricardo. Por intermédio de Moreira da Silva, que a ouviu nesse programa, foi para a Rádio Tupi e depois começou a trabalhar como crooner da boate carioca Texas, no bairro de Copacabana, onde conheceu Silvia Teles e Aluísio de Oliveira, que a convidou para gravar.
No seu primeiro disco, gravado em 1960, pela Odeon, cantou Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins), alcançando logo grande sucesso. Esse samba fez parte de seu primeiro LP, com o mesmo titulo da música. A seguir, foi para São Paulo SP, para trabalhar no show Primeiro festival nacional de bossa nova, no Teatro Record e na boate Oásis, gravando depois seu segundo LP, A bossa negra.
Em 1962, como artista representante do Brasil na Copa do Mundo, que se realizava em Santiago, Chile, cantou ao lado do representante norte-americano, Louis Armstrong. Nessa época ficou conhecendo o futebolista Garrincha, com quem casaria mais tarde.
No ano seguinte, gravou pela Odeon o LP Sambossa, tendo como destaque as músicas Rosa morena (Dorival Caymmi) e Só danço samba (Tom Jobim e Vinícius de Moraes); e, em 1964, lançou pela Odeon Na roda do samba (Orlandivo e Helton Meneses), faixa-título do LP. Realizando inúmeras apresentações pelo Brasil e nas emissoras de televisão, os LPs se sucederam: em 1965, foi a vez de Um show de beleza, pela Odeon, com, entre outras, Sambou, sambou (João Melo e João Donato), e Mulata assanhada (Ataulfo Alves); em 1966, saiu pela mesma gravadora o LP Com a bola branca, onde cantou Estatuto de gafieira (Billy Blanco) e Deixa a nega gingar (Luís Cláudio).
Apresentou-se, em 1967, no Teatro Santa Rosa, no show Elza de todos os sambas, e, novamente pela Odeon, gravou em 1969, o LP Elza, Carnaval & Samba, cantando sambas-enredo, como Bahia de todos os deuses (João Nicolau Carneiro Firmo, o Bala, e Manuel Rosa) e Heróis da liberdade (Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manuel Ferreira).
Em 1970 foi para a Itália, apresentando-se no Teatro Sistina, em Roma, e gravando Que maravilha (Jorge Ben e Toquinho) e Mascara negra (Zé Kéti). Nesse mesmo ano, gravou o LP Sambas e mais sambas, pela Odeon, interpretando músicas como Maior é Deus (Fernando Martins e Felisberto Martins) e Tributo a Martin Luther King (Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli).
De volta ao Brasil, em 1972, lançou, pela mesma etiqueta, o LP Elza pede passagem, onde interpretou Saltei de banda (Zé Rodrix e Luís Carlos Sá) e Maria-vai-com-as-outras (Toquinho e Vinícius de Morais), e apresentou-se no teatro carioca Opinião, no show Elza em dia de graça. Ainda nesse ano, passou uma temporada realizando um show no navio italiano Eugênio C, fez um espetáculo de duas semanas na boate carioca Number One, cantou no Brasil Export Show, realizado na cervejaria Canecão, do Rio de Janeiro, e recebeu o diploma de Embaixatriz do Samba, do conselho de música popular do Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro.
Em 1973, gravou o LP Elza Soares, pela Odeon, cantando Aquarela brasileira (Silas de Oliveira) e Pranto de poeta (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito); e apresentou-se no show Viva Elza, que estreou no T.B.C., na capital paulista, e que depois foi levado em vários Estados.
Nos dois anos seguintes, lançou pela Tapecar mais dois LPs, Elza Soares, com Bom-dia, Portela (Davi Correia e Bebeto de São João) e Chamego da crioula (Zé Di); e Nos braços do samba, com faixa-título de Neoci Dias e Dida. Gravou ainda Pilão+Raça=Elza (1977), Somos todos iguais (1986) e Voltei (1988).
A partir de 1986, com a morte de Garrinchinha, seu filho com o jogador de futebol Garrincha (1933 – 1983), passou nove anos na Europa e nos EUA de volta ao Brasil, gravou em 1997 o CD Trajetória, só de sambas, com músicas de Zeca Pagodinho, Guinga e Aldir Blanc, Chico Buarque, Noca da Portela, Nei Lopes e outros.
Em 2000, ela foi premiada como "Melhor Cantora do Universo" pela BBC em Londres, quando se apresentou num concerto com Gal Costa, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Virgínia Rodrigues. No mesmo ano, ela fez uma série de shows de vanguarda dirigidos por José Miguel Wisnik no Rio de Janeiro.
Em 2002, seu álbum Do Cóccix Até O Pescoço lhe garantiu uma indicação ao Grammy. O álbum recebeu críticas estupendas da imprensa da música e divulgou uma espécie de quem é quem de artistas brasileiros que colaboraram com ela; Caetano Veloso, Chico Buarque, Carlinhos Brown e Jorge Ben Jor para exemplificar alguns. O lançamento impulsionou numerosas e bem-sucedidas turnês pelo mundo.
Em 2007, nos Jogos Pan-americanos do Brasil, Elza interpretou o Hino Nacional Brasileiro, no início da cerimônia de abertura do evento, no Maracanã.
Bibliografia:
- Estrela Solitária - Um Brasileiro chamado Garrincha
Ruy Castro - Companhia das Letras 1995
- Cantando para não Enlouquecer
José Louzeiro - Editora Globo 1997
"Estou na Itália e me informam que Elza e Mané foram para Madri. E lá fomos nós encontrá-los, instalados num hotel. Mané é um ídolo na cidade, e todo mundo anda à cata de um autógrafo seu. O casal resolve nos oferecer uma feijoada, e Luís Sérgio manga do casal: 'Onde é que vocês vão arranjar paio, feijão, pimenta, carne-seca?' Descemos uma hora depois à cozinha do hotel, cedida pelo proprietário, e encontramos Elza paramentada de cozinheira,preparando uma feijoada com todos os ingredientes que, sei lá como, Mané descolou, escarafunchando a cidade de ponta a ponta."
[Trecho da crônica "Elza Soares", publicada por Hermínio no livro "Sessão Passatempo" Relume-Dumará, 1995]
“Ela já me disse em uma entrevista: “Degustei lágrimas como quem degusta vinho”. Sei o gosto que elas têm”. Não foi apenas uma frase de efeito. Quem conhece um pouco de sua história sabe que ela comeu o pão que o diabo amassou, apanhou mais do que boi ladrão. Mas seguiu os ensinamentos do “Che” e não perdeu a ternura, jamais.
Outro que homenageou lindamente a garra da cantora, seu som em fúria, foi Chico Buarque. Lembrou o craque dos craques, na canção Dura na queda: “Apanhou à beça, mas pra quem sabe olhar/A flor também é ferida aberta/E não se vê chorar”.
– Sou uma poderosa. Vitoriosa quatro vezes: mulher, negra, estrela e gostosa.
Diz o último verso da canção do Chico: “O sol ensolará a estrada dela...”. A estrada sempre esteve ensolarada. Elza Soares é a verdadeira guerreira da luz.”
Luís Pimentel
Atravessou a década de 70 gravando sambas com sucesso, concomitantemente ao drama doméstico do alcoolismo crônico do qual Garrincha padecia. Mané, um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos, vinha morrendo aos poucos vítima do álcool, até falecer de fato em 1983.
A tragédia pessoal de Elza não terminaria ali: seu filho com Garrincha, Garrinchinha, morreria, ainda criança, três anos mais tarde, em conseqüência de um acidente de carro. Estes fatos afastaram Elza dos palcos durante um longo tempo, até que, na década de 90, A negra de voz rouca e inconfundível voltaria com força renovada.
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Manoel Francisco dos Santos, o essencial Garrincha, um dos melhores boleiros do planeta, nasceu em 28 de outubro de 1933, no distrito mageense de Pau Grande, no Estado do Rio de Janeiro.
Mané era o quinto filho da casa e a irmã mais velha, Rosa, vendo nele o passarinho indomável e de canto suave, passou a chamá-lo Garrincha. E ele, bem como o apelido, desde cedo mostraria o que lhe era de gosto e temperamento. Daí, do lado indígena paterno, o futuro ídolo herdara o pendor alcoólico. E a alegria de viver e jogar vinham-lhe igualmente da negritude de seu Amaro dos Santos.
Mas ninguém em Pau Grande discutia que o adolescente bebesse. Incrível era que ele jogasse bola com o joelho direito virado para dentro e o esquerdo para fora, aleijão que tornava uma perna menor que outra, deslocando a bacia. E que jogasse tanto no time da indústria têxtil América Fabril, onde o fujão operário Garrincha trocava o trabalho pelas peladas. Só que ele era o ás da equipe da fábrica, o que fez o Serrano de Petrópolis contratá-lo para remunerar por jogo. Essa forma de salário criaria nele a ânsia de viver da terceira coisa - depois de sexo e bebida, nesta ordem - que mais gostava: jogar. E ainda fez o seu tio Manoel Caieira - cachaceiro inveterado - querer transferi-lo para um dos clubes cariocas de renome.
Em 1950, Caieira levou-o ao Vasco e ao São Cristóvão. E, em 51, ao Flamengo e ao Fluminense, todos sem êxito. O caipira Garrincha quis desistir de time grande quando - já casado com Nair, operária que lhe dera uma filha - o Botafogo o convidou para um teste. E em 10 de junho de 53 ele foi treinar. Nesse dia, Nílton Santos pediu que o contratassem - inclusive, para sossegar o resto da vida e ter certeza de que jamais seria desmoralizado por alguém no futebol.
O Botafogo pagou míseros US$ 27 ao Serrano e a Garrincha um salário mixo, mas acima do da tecelagem. Para o Rio, Mané trouxe a amante, Iraci. E toda semana subia a serra para beber e transar com a negrinha Nair, em quem fez adiante mais sete filhas.
No clube, ele cresceu na ponta-direita, mas o time em 53, 54 e 55 esteve mal. Na Taça O´Higgins, em 19 de setembro de 1955, Garrincha estreou no selecionado brasileiro. E só em 57, quando o Botafogo foi campeão carioca, voltaria ao escrete. Em 1958, Mané venceu a Copa do Mundo na Suécia, onde, além de beber o que tinha direito, fez numa namoradinha seu filho Ulf Lindberg - irmão nórdico dos dois filhos que teve com Iraci, a mulata pau-grandense a quem logo esqueceria.
Nos anos de 59 e 60, pela seleção, Garrincha jogou amistosos e um sul-americano. Em 61, venceu as taças O´Higgins e Oswaldo Cruz, além do certame estadual pelo Botafogo. À época, separou-se de Nair e amigou-se com a cantora Elza Soares.
No ano seguinte, visando o carioca, venceu o Rio-São Paulo (título repetido em 64) e fez 12 jogos no escrete para levar outra vez a Oswaldo Cruz e a Copa no Chile, onde foi o craque da competição - apesar de expulso de campo, fato isolado na carreira. Só voltou ao time do Brasil em 65, ano em que o venderam ao Corinthians. E no Mundial de 1966, contra a Hungria, Garrincha perdeu pela única vez no escrete, sendo esta sua última partida pelo selecionado - contabilizando 61 jogos e 17 gols.
A rigor, ele decaiu quando, com artrose crônica e fora de peso, recebia infiltrações nos joelhos para dar renda ao Botafogo - com ele, cota de US$ 12 mil; sem ele, só US$ 8 mil. Vendo a mina secar, esse clube o cedeu ao Corinthians, onde Mané fez só 10 jogos e ganhou o Rio-São Paulo de 66.
Depois, para sobreviver, ele tentaria a sorte no colombiano Atlético Junior, de Barranquilla. E, de volta ao Rio, ainda atuou sem brilho nos times Flamengo, Olaria e Portuguesa.
Na Itália do início dos anos 70, ele jogava em um time amador, adversário de equipes de várzea. E teve como motorista particular o poeta Chico Buarque de Holanda - à época, exilado político. Só que Mané podia voltar. E voltou ao Maracanã, onde foi O anjo de pernas tortas e A alegria do povo, no "jogo da gratidão", que reuniu atletas nacionais e estrangeiros em dezembro de 73. Mas, após beber a renda dessa partida, dirigindo embriagado em três ocasiões, ele vitimou o pai em Pau Grande, uma criança e a sogra.
Às vezes, sem gás, alugava-se a times medíocres e com o amealhado bebia. No carnaval de 1980, a sua imagem alegórica na escola de samba que o homenageou era comovente. E ele, que sempre foi meigo e cordial, deu-se à violência com quem queria ajudá-lo, como Ademir Menezes. Até que, em 77, agrediu fisicamente Elza e ela - mãe de Garrinchinha, não suportando mais, o abandonaria.
Então, o perturbado Mané se uniu a Vanderléa, que lhe deu uma filha - totalizando, como fogoso garanhão de cinco parceiras, uma prole repleta de 13 filhos.
Contudo, seu feito maior não foi essa neurose. Não, ele fez bem mais... Afora a magia do drible inigualável, Mané legou ao futebol o cavalheiresco gesto de pôr a bola fora de jogo para socorrer alguém. E certa vez, no México, de tanto vê-lo driblar um ala do River Plate, a massa passou a dizer olé - o brado de incentivo das touradas, hoje incorporado aos estádios do mundo. Ainda mais dele: as frases sutis e curtas.
No Chile, em 1962, um radialista pediu: Al micrófono para sus despedidas. E Garrincha: "Adeus, micrófono". Com outro repórter foi diplomata: "Nasci Flamengo, mas cresci Botafogo". Neste clube, aliás, o honrado almirante Lima Lages ouviu quando o ponta-direita disse - na bucha e sem pestanejar - a um presidente o quanto queria receber de salário: "No mínimo, o máximo".
Esse gênio iletrado, que - para o cronista Paulo Mendes Campos - fez a mágica superar a lógica, morreu no Rio do Janeiro, em 20 de janeiro de 1983.
Na autópsia, seu cérebro, coração, pulmões, pâncreas, fígado, intestino e rins estavam parcialmente destruídos pelo álcool. Porém, se esse exame sentisse humanamente, decerto diria que com Mané desapareceu, sobretudo, o sonho de todo e qualquer homem que queira fazer da alegria a razão suprema do futebol. E da vida.
"Em 1969, Elza e Mané Garrincha receberam vários telefonemas ameaçadores, de pessoas ainda inconformadas com a união dos dois. Essas pessoas pediam para ambos falarem menos sobre tudo o que estavam passando, já que era grande a pressão. Para que evitassem algo trágico, algumas dessas pessoas até os aconselharam a saírem por algum tempo do país.
De Início, eles desconsideraram. Até que numa noite os vidros e a parede da sala foram metralhados. Elza e Mané Garrincha decidiram se auto-exilaram na Itália."
Gerson Soares
1977 - A 12º DP do Rio de Janeiro está apurando as agressões sofridas pela cantora Elza da Conceição Soares. Elza contou ao delegado Simoneti que fora agredida por seu companheiro Manuel dos Santos, o Mané Garrincha. Segundo Elza Soares, Mané Garrincha passou a maltratá-la há algum tempo, quando se entregou ao vício da embriaguez.
Jornal O Povo
Revista O Cruzeiro - 18 de julho de 1964
Mané Garrincha, que sambou como quis frente a “João” de toda ordem, e balançou muita rede internacional com seus chutes de endereço certo, volta ao cartaz numa nova faceta, bem diferente da que o fez famoso.
Garrincha, agora, fará os outros sambarem, dando receita para balanço. Não é conselho para furar arco adversário, mas forma acertada de cair no mais autêntico samba brasileiro. Porque Mané virou sambista. E, na base do teleco-teco, lançou seu primeiro sucesso, que tem como título “Receita de Balanço”. E, com intérprete, Elza Soares, a bossa em pessoa.
A história é simples, como simples são os seus personagens, apesar da fama que os cerca.
Há dias Elza Soares preparava, na cozinha da sua bonita casa da Ilha do Governador, um bem temperado feijão, quando ouviu o ritmado assovio. O samba não era conhecido.
O assobiador, sim. Mané Garrincha surgiu, e com ele o diálogo:
- Onde aprendeu esse samba, Neném?
- Não aprendi Crioula. É meu.
- Seu? E tu é sambista?
- Não sou, mas dou meus assobios.
A música era gostosa. Faltava a letra. Ali mesmo, entre pratos e panelas, Mané Garrincha preparou a primeira parte. Depois do almoço, saiu a segunda. Elza deu uns retoques, e veio o batismo: “Receita de Balanço”.
- Vou gravar esse samba, Neném.
- Deixa pra lá, Crioula.
- Mas, ele é muito bonito.
- Então, é todo seu.
A turma da Odeon ouviu o samba. Gostou e marcou gravação para o dia 24 de junho. “Receita de Balanço” completará um compacto de 4 sambas. Unindo-se a “O Morro”, “Bossambando” e “Na Roda do Samba”.
Garrincha misturando-se com compositores do quilate de Carlos Lyra, Orlandivo e Helton Menezes.
Agora o diálogo é conosco:
- O samba é bom, Garrincha?
- Não sei. A Crioula gostou.
- Você já tinha feito algum outro samba?
- Não me lembro. Talvez, sim. De brincadeira.
- Qual é a letra?
- Não repare a voz. É assim: “Vamos balançar/ Cantando/ Vamos balançar/ Sambando/ Vamos balançar/ E deixando a tristeza da vida pra lá”. Agora, a segunda parte: “Como é que nasce o amor? / Balançando/ Como é que se cura uma dor? Cantando/ Então vamos balançar/ E deixando a tristeza da vida pra lá”. Gostou?
Gostamos. Principalmente depois que ouvimos a repetição na voz de Elza Soares. É impossível, porém, separar Garrincha do futebol. Ainda mais na semana em que só se fala no seu joelho enfermo.
- Como vai o joelho, Garrincha?
- Acabei o tratamento hoje. Agora, segundo o médico que está me tratando, terei que ficar mais quinze dias parado. Depois posso voltar a jogar, em plena forma.
- Quem é esse médico?
- É um holandês, de nome complicado. É muito bom, e deu jeito no meu joelho.
Garrincha desabafa. Está triste com os que o criticam, por não ter excursionado com o Botafogo. Explica que teve vontade. O seu médico, porém, avisou ao técnico do clube:
- Se quiser, podem levá-lo. Mas, na volta, não quero mais vê-lo, nem me responsabilizo pelo que lhe possa acontecer. Se não fizer o tratamento direito, pode ter certeza de que Garrincha não ficará bom.
Mané não foi pensando no próximo campeonato carioca. E na Copa do Mundo de 66:
- Essa eu trago, nem que tenha que morrer em campo.
Falaram que ele só pensa em dinheiro:
- Não é verdade. Gostar de dinheiro, eu gosto. Mas gosto ainda mais do futebol. Se o que dizem fosse verdade, eu teria ido. Jogava cinco minutos em cada partida, garantia a cota do Botafogo e embolsava 200 mil cruzeiros por jogo. Além disso, não indo deixei de ganhar um milhão e pouco. Estou a 13 anos no Botafogo e só não excursionei porque preciso ficar bom. Para o bem do meu próprio clube.
Elza Soares vai trocar de roupa, para novas fotos. E comenta:
- Hoje eu posso escolher um vestido, entre muitos que enchem o meu guarda-roupa. Não era assim no tempo da Conceição.
“Conceição” era um vestido. O único que Elza Soares possuía quando iniciou no rádio. Presente de Ziza, esposa de Aerton Perligeiro. Cor coral, era lavado todos os dias, para as apresentações da bossa crioula. Hoje Elza ganha 200 contos por “show” e faz de dois a três por semana.
Em setembro de 1964, Elza Soares exibia sua voz rouca no microfone da boate Som de Cristal, uma das mais antigas e tradicionais de São Paulo, diante de um apaixonado Mané Garrincha, que não conseguia tirar os olhos dela enquanto ela cantava.
Antes do show, o casal havia protagonizado um incidente na porta do Hotel Lord, onde não foram aceitos como hóspedes pelos proprietários, uma amostra do preconceito que sofreram ao longo da relação. O incidente em nada atrapalhou o desempenho da cantora no palco. Segundo o noticiário da época, Elza e Garrincha “receberam grande consagração”, o que se pode perceber pelo olhar orgulhoso do craque.
Também foi durante uma apresentação, dois anos antes, que eles se conheceram. O Brasil se preparava para a Copa do Mundo de 1962 e Elza foi chamada para fazer um show para a Seleção. Garrincha ofereceu seu quarto para que ela trocasse de roupa e foi assim que começaram a conversar. Ela também viajou para o Chile, onde foi disputado o Mundial, e viu o gênio das pernas tortas ganhar o bicampeonato praticamente sozinho, após a contusão de Pelé na segunda partida do Brasil.
Garrincha ofereceu a ela a conquista. Nos 15 anos que ficaram juntos, Elza acompanhou as glórias e também a decadência de Garrincha, que sofreu com o alcoolismo e morreu em 1983. Ela ainda teve que enfrentar as críticas dos fãs do jogador, que a consideravam culpada pela decadência do ídolo.
UpToDate - Fale-me um pouco sobre a biografia que você lançou.
Elza Soares - Eu lancei a minha biografia na Choperia Continental, aqui em São Paulo. Só o título já é interessante, "Cantando Para Não Enlouquecer". Através da música, foi tudo o que eu achei para não enlouquecer.
UpToDate - Quanto tempo você demorou para escrever o livro?
Elza - Há vinte anos atrás, mais ou menos, a minha vida era uma. Eu estava feliz e não sabia. Eu tinha o meu filho, mas depois que eu o perdi, eu enlouqueci e pirei de vez. Daí levei oito anos para reunir material para o livro. As fitas que tiveram de ser gravadas... Relembrar e falar sobre muitas coisas que não se quer falar mais, que se quer esquecer. Mas não se pode fazer uma biografia sem falar. E a minha vida é muito aberta.
UpToDate - Foi bom para você ter escrito a tua biografia?
Elza - Eu estou aqui com muita experiência, passando essas coisas para as pessoas com muita dignidade e muita força para viver. Porque você tem de lutar enquanto a vida está aí. Ela está com você e você tem de fortalecê-la. E hoje as pessoas me olham até de uma maneira meio assustada. Elas falam "O Elza, você com esse corpinho de menina e essa carinha". Bom, Deus não poderia me tirar tudo, né?
UpToDate - Quantos anos tinha o teu filho quando ele morreu?
Elza - Ele tinha oito anos. Eu tinha planos com ele. Eu acho que ele seria meu grande amigo. Ele seria o meu grande companheiro. Ele era a herança que o Mané (Garrincha) me deixou. Quer dizer, ele pensou que tinha deixado, mas ele passou por aqui para não deixar herança nenhuma.
UpToDate - Mas o Mané Garrincha deixou a beleza do seu futebol como herança, um dos maiores do mundo.
Elza - Hoje, os jogadores de futebol têm muito medo do fracasso, de não se tornarem algo como a elegância do futebol do Mané. E o poder que Deus deu a ele com aquelas pernas tortas.
Os grandes ídolos que pensamos que temos, nós já não temos mais. Eles vivem fora do país. Hoje os astros jogam pelos dólares. Eu não acho que isto está errado, mas as coisas mudaram muito.
Com aquele futebol arte, aquele futebol beleza, eu não lembro que o Mané tivesse ganho na vida um prêmio como "a bola de ouro". E mesmo que oferecessem a ele, ele não aceitaria. Era mais fácil ele aceitar um pássaro ou um animal do que esses grandes prêmios que dão como destaque aos maiores jogadores de futebol do mundo. Ele nunca ambicionou isso.
UpToDate - Você leu o livro do Ruy Castro sobre o Mané Garrincha?
Elza - Li e chorei muito. Eu gosto muito porque eu sou uma fã ardorosa do Ruy. Fiquei muito grata porque ele lembrou do Mané. O Ruy enfrentou uma barra, não das filhas do Mané, porque elas não tinham nenhum poder de impedir o lançamento do livro, mas talvez por parte de outras pessoas interessadas no vil metal. Isso fez com que elas aparecessem proibindo o livro. Eu achei aquilo um absurdo... Como é que você presta uma homenagem a alguém e chega outro que diz "não pode!". Eu achei que o Ruy falou no livro e falou pouco até. Mas muita coisa do Mané eu não falaria. Existem coisas que eu quero levar para o túmulo comigo. Eu acho que o Mané só merece o que é bom.
UpToDate - O que você acha do contexto dele na história do futebol brasileiro?
Elza - Hoje eu vejo tanta gente batendo no peito e dizendo "nós somos tetra-campeões". E eles esquecem que o Mané foi a pedra fundamental e a base desse estardalhaço todo. Ele foi o grande mensageiro do futebol brasileiro. O futebol do Mané era o futebol arte. Eu até considero ele como o Charles Chaplin do futebol.
Eu tenho em casa uma imagem do Charles Chaplin que eu cultuo como se fosse a imagem do Mané. Os dois levavam alegria ao povo. O Mané tinha aquela simplicidade, aquele jeitão puro do mato... Eu acho que a música sertaneja seria tudo o que o Mané gostaria de ouvir.
Muito embora o primeiro disco de presente que eu ganhei dele fosse o da Billie Holiday. Ele me achava meio parecida com a Billie Holiday. Ele não poderia imaginar que o sofrimento viria após aquele disco, que foi a minha vida com ele, uma vida bem dura. Eu via na nossa vida sofrimento e amor.
UpToDate - Quando foi que você conheceu o Mané Garrincha?
Elza - Eu conheci o Mané se preparando para a Copa do Mundo de 1962, antes da Copa do Chile. Ele me foi apresentado pelo Dr. Lívio Toledo e pelo Newton Santos. Eles foram à minha casa e pediram que eu fizesse uma campanha para que o Mané ganhasse um carro como "o jogador do ano". Ele era pobrezinho e a nossa vida era muito parecida. Ele casou-se aos dezessete anos e trabalhava numa fábrica. E eu me casei aos doze anos e trabalhava numa fábrica também. E tivemos quase a mesma quantidade de filhos; ele de um lado e eu do outro. E eu com aquele jeito assim...
UpToDate - Como era o teu jeito?
Elza - Eu não sei nem te explicar como era o meu jeito. Até hoje eu acho que muita gente não me conhece. Por isso mesmo, eu agradeço muito ao Ruy Castro por ter mostrado a imagem de uma outra mulher. Porque eu ocultei muito a mim mesma. Não adianta você sair por aí dizendo "eu sou ótima, eu sou maravilhosa". Eu acredito que até hoje no meio artístico muitas pessoas me acham antipática por eu ter uma vida um tanto isolada. Mas é o meu jeito mesmo.
UpToDate - Mas isso pode ser uma forma que você encontrou para se concentrar no teu trabalho.
Elza - E se concentrar na vida. Eu me considero quase como uma menina de rua. E toda criança que veio de uma família muito pobre e que passou por muita necessidade, ela não é expansiva e ela não tem aquela coisa de falsidade. É por isso que eu vivo o meu mundo. Eu gosto de todo o mundo, mas vivo o meu mundo. Eu não tenho inveja de ninguém, como eu também gostaria que ninguém tivesse inveja de mim. E dentro desse mundo que eu vivo, eu estou concentrada com Deus.
UpToDate - Talvez isso também seja um dos fatores da tua juventude física e do teu canto. É incrível como a tua voz praticamente continua a mesma.
Elza - E muito. A minha voz continua a mesma e até mais elaborada.
UpToDate - A capacidade de improvisação e de extensão da tua voz é algo fantástico.
Elza - Graças a Deus. Você vê só como a gente cresce.
UpToDate - Quais são os cuidados que você toma com a tua voz?
Elza - Olha, eu estudo sax alto. Tocar e estudar são coisas bem diferentes. Se eu quisesse fazer alguma exibição, eu até faria. Mas eu acho que a música vive em mim como forma de oração. Eu tenho um respeito profundo pela música. Eu acho que se pode cometer brincadeiras no palco até como uma atriz, como eu faço. Mas se eu fizesse uma exibição instrumental, eu ficaria vinte e quatro horas por dia trancada no meu quarto para chegar ao público apresentando-me com perfeição. Ninguém é perfeito, mas eu gosto do melhor.
UpToDate - Desde quando você estuda sax?
Elza - Desde que eu perdi o meu filho. Eu comecei a estudar sax em Los Angeles com um dos maiores professores que é o Moacyr Santos. O Moacyr é um cara perfeito. Eu o chamo de "meu guru". Ele ainda tem um estúdio lá, que era do lado de onde eu morava. E ele tem um ouvido tão apurado que, quando ele ouvia uma nota errada, ele batia na porta e dizia "dá essa nota outra vez, você não deu essa nota certa, Elza".
Ele achava que a minha voz era uma voz muito estranha, uma voz de negra americana. Ele dizia que eu tinha que trabalhar a voz porque era uma voz que Deus escolhe com conta-gotas. Ele me dizia isso e eu já tinha escutado isso também do próprio Louis Armstrong.
UpToDate - Você conheceu o Louis Armstrong também em 1962, lá na Copa do Mundo do Chile, não foi?
Elza - Eu fui a madrinha da Copa do Mundo. E ganhei a Copa... (rindo) Ele me chamou de "my daughter" e eu não entendia nada de inglês, e aquele negrão lá na minha frente que mais parecia o Monsueto. E, depois de me ouvir, ele ficava falando "yes, she is my daughter". Eu dizia "mas que coisa, esse homem me chamando de doutora (doctor) o tempo todo". (risadas) E eu dizia para o cara ao meu lado, "diz pra ele o meu nome porque ele insiste em me chamar de doutora". E então eu perguntei ao intérprete "por que ele está me chamando de doutora". E ele me falou "não Elza, ele está te chamando de filha porque "daughter" em inglês quer dizer filha". "Oh!!! É mesmo!", disse eu.
UpToDate - Que honra deve ter sido quando você percebeu isso.
Elza - Mas eu nem sabia de quem se tratava. Imagina uma ex-favelada, uma ex-menina de rua, uma ex-faminta, grandiosa lá no Chile, madrinha da Seleção Brasileira de futebol, ver um músico assim te chamar de filha. Mas, como é que eu iria saber que ele era o Louis Armstrong, se eu nem o conhecia? Lá na minha casa não havia rádio, não havia nada. São coisas dos deuses que ninguém pode explicar.
UpToDate - E depois que você começou a entender do que se tratava?
Elza - Aí o tradutor que estava comigo falou pra mim "Elza, faz um carinho nele". Eu falei para o intérprete "você tá brincando, esse homem parece um armário; por onde eu começo a fazer carinho nele?" (risadas) E o intérprete insistia "vai lá e passa a mão nele". E eu disse "hummmmm...". Então o tradutor disse, "melhor, vai lá e chama ele de "my fóder" (father). E eu disse "tú é doido cara, não é porque ele me chamou de 'doutora' o tempo todo é que eu vou xingar o homem agora". Eu disse, "não vou falar o fóder não". E ele insistia "vá e diga fóder". E eu dizia "não, não vou mandar o cara se fóder não". (risadas)
Bem, aí eu cheguei perto dele... Me lembro da figura dele que era linda, eu até tenho uma foto minha com ele na minha casa, e eu cultuo aquilo como um presente do papai-do-céu. Aí o intérprete me perguntou "você não sabe o que é father?" (e não fóder) Eu disse "sei todo mundo faz, mas não preciso dizer isso pra ele". Então eu fui, cheguei pra ele e disse "my father". Então ele sorriu e me abraçou com todo o carinho e disse "yes, you're my daughter". Então eu perguntei baixinho ao intérprete o que era "father" e ele me disse que era o mesmo que pai. Eu pensei "Ah! Então é isso! Pai fóder e faz filho". (risadas) Mas, foi tudo bem legal.
UpToDate - Que ótima essa história. Você teve um outro contato com ele depois disso?
Elza - Sim, depois nós fomos juntos para o México porque ele queria me levar para a Georgia. Eu só não fui porque eu estava com os filhos pequenos e eu estava começando uma vida nova. E quando você está ganhando, você tem muito medo de perder. E ali, naquele momento, tudo para mim era o Moreira da Silva, era a Silvinha Telles, não era o Louis Armstrong. Eu não o conhecia. Depois é que eu fui saber quem era o Louis Armstrong e comecei a conhecer os artistas estrangeiros.
UpToDate - Foi nessa época que o Moreira da Silva te levou para um programa de rádio?
Elza - Ele me levou para o "Aerton Pé Ligeiro". Inicialmente, eu mesma fui para a Rádio Mauá trabalhar com o Hélio Ricardo. E o Moreira da Silva, me ouvindo da casa dele, pediu que eu aguardasse. Então ele me apresentou ao Aerton, da Rádio Tupi. E foi na Rádio Tupi que eu comecei a brotar.
UpToDate - A Rádio Tupi naquela época (1960) era a grande rádio. Era como se fosse a Rede Globo das rádios?
Elza - Era uma coisa assim. A Tupi era "a Radio". Antes eu já havia cantado no programa de calouros do Ary Barroso. Que também foi uma humilhação. Na época, eu pesava uns trinta e poucos quilos. Eu me inscrevi no programa de calouros do Ary Barroso. A exigência deles era que eu viesse bonita. Eu falei "bonita como?" Então eu peguei uma saia da minha mãe, uma camisa e uma porção de alfinetes. Enrolei bastante a saia e a blusa e fui pondo alfinetes nos panos que sobravam.
Então cheguei no programa do Ary Barroso, fiz o teste com o regional Cruz e Toco Preto, mas eles fizeram uma maldade comigo e me deram um tom acima. Mas a minha voz era pura e limpa, não havia poluição, e então não havia o que segurasse a minha voz. Aí eu subi o tom. Então eles todos ficaram surpresos "meu Deus, de onde veio essa voz?".
Mas por mais que eu pense nisso, eu ainda acho que eu não sei nada. Enquanto estamos vivos, temos muito o que aprender. E eu tinha achado que tinha cantado pessimamente mal, mas os músicos me trataram com muito carinho e ficaram me protegendo.
UpToDate - E como era o Ary Barroso?
Elza - Ele era um mineiro daqueles bem tradicionais. Parecia um tipo chato, tinha um narigão, usava um óculos pequeno na ponta do nariz, e chamava todo mundo de "meu filho e minha filha". Para se apresentar lá, a primeira coisa que você tinha de saber eram os nomes dos autores da música que você ia cantar. E isso eu gravei logo.
Aquilo parecia um corredor da morte. Ficava todo mundo sentado nuns banquinhos e ele chamava, "senhor fulano de tal!". Mas o que me fazia sentir muito alegre ali eram os calouros gongados. Eu morria de rir quando alguém levava um gongo (e era desaprovado por ele). O susto que os calouros tomavam era engraçado, eles davam um pulo na hora do gongo. Parecia que eles levavam um tiro ou um choque elétrico. E eu ria de chorar. Mal sabia eu que na minha hora, iria ser uma coisa terrível.
UpToDate - E como foi quando chegou a sua vez?
Elza - Ele chamou "Elza Gomes da Conceição". Eu não disse Elza Soares porque eu pensei que fossem descobrir lá em casa. Era inocência minha. Mas já tinha nascido o meu filho porque eu me casei com doze para treze anos. E o meu filho precisava de dinheiro, eu precisava muito de dinheiro. Depois dele me chamar, eu fui andando feito donzelinha para o palco. Então, quando eu subi no palco o auditório deu uma sonora gargalhada. Eram mais de mil pessoas presentes; aquilo na Rádio Tupi era o Maracanã dos auditórios.
Quando eu vi todo mundo rindo de mim... E o Ary Barroso ali parado no piano, ele puxou os óculos, ficou me olhando, não me chamava, não dizia nada, e eu parada... Eu fiquei esperando ele me chamar de "minha filha", mas ele não disse. A coisa estava muito feia pra ele me chamar de filha. (risadas) Ele já me via como um ET. Então ele disse "aproxime-se", assim duro e frio. E as pessoas rindo muito, mas eu nem aí, com aquela saia cheia de alfinetes e duas maria-chiquinhas no cabelo. Eu deveria ter uma foto porque realmente era uma coisa muito esquisita. Então fui me aproximando dele, deixando todos rirem muito, sem olhar para o auditório. Fiquei parada perto dele, olhando para ele.
UpToDate - Qual foi a reação dele?
Elza - Ele me disse "o que é que você veio fazer aqui?" Eu disse "ué, eu vim cantar". "Mas quem disse a você que você canta?", ele me perguntou. Eu disse, "eu!". Então ele me perguntou "mas me diga uma coisa, de que planeta você veio?". Ah, aquilo me feriu, aquilo bateu no ego.
UpToDate - E a platéia a essa altura?
Elza - Rindo muito às gargalhadas porque aquilo era muito cômico. Então eu disse a ele: "Sr. Ary Barroso, eu estou vindo do planeta fome, do mesmo planeta seu". Aí todas as pessoas no auditório ficaram quietas. Antes dele me perguntar os nomes dos autores, eu disse o nome deles.
UpToDate - O que é que você cantou?
Elza - Eu cantei "Lama", mas eu não me lembro os nomes dos autores. E tinha um neguinho que ficava segurando um pau para soar o gongo. Então eu disse ao Ary para ele tirar aquele neguinho com aquele pau na mão porque ele não iria precisar usar aquilo, ele não iria me gongar.
Aí comecei a cantar mas, na metade da música, eu me lembrei do que eu aprendi a fazer com a lata d'água (cantando com a voz rouca e arranhada). E cantei a música inteira assim. O auditório, que a princípio estava rindo muito, parou. Ficaram quietos e depois começaram a aplaudir. Foi a primeira vez que eu senti uma sensação de ódio.
UpToDate - Mas ódio por que se eles riram e depois te aplaudiram?
Elza - Era uma sensação de hipocrisia, mas eu também não sabia explicar, porque eu era muito criança apenas com treze anos. Eu achei aquilo uma crueldade, meu filho estava entre a vida e a morte; eu mãe, sendo apenas uma criança, tentando ganhar aquele dinheiro. Mas eu fui aplaudida de pé e o povo gritava e delirava. Eu terminei de cantar deitada no peito do Ary Barroso. Ele não resistiu e me abraçou. Então ele disse, "Senhoras e senhores, neste exato momento acaba de nascer uma estrela".
Agora você imagina a minha inocência, eu fiquei olhando pra cima pra ver onde estava nascendo a tal da estrela. (risadas) Eu até queria perguntar pra ele de que estrela ele estava falando, mas eu estava chorando, me desmanchando em lágrimas. Então eu ganhei nota cinco, que era o máximo. Andei de taxi pela primeira vez na minha vida para pagar na outra quarta-feira.
UpToDate - Você ganhou dinheiro também?
Elza - Naquele dia eu só ganhei a nota cinco, o dinheiro eles pagaram na semana seguinte. Quando eu cheguei em casa, estava todo mundo me esperando na porta. E o motorista de taxi disse a eles que "o Sr. Ary Barroso me pediu para trazer a menina porque ela é uma estrela". Na semana seguinte, fui lá pegar o dinheiro, e aquela figura bonita (Ary Barroso) ficou sendo meu amigo por muitos anos. Ele estava presente em todos os primeiros shows da minha vida. Ele se sentia o tutor da Elza Soares.
UpToDate - Foi logo depois disso que você conheceu a cantora Silvinha Telles e o famoso produtor Aluísio de Oliveira, e começou a cantar na boate Texas, e partiu para o seu primeiro disco?
Elza - Houve um grande espaço porque, naquela época, cantar era considerado coisa de prostituta. E a família não permitia. As pessoas diziam "somos pobres, mas somos honestos". Eu dizia, "eu hein, pobre com fome?" Eu nunca vi honestidade com fome. Eu pensava "honestidade pra mim é barriga cheia". Eu tive uma oportunidade e então eu fui para a Argentina e comecei cantando praticamente com o Astor Piazzola.
UpToDate - Mas, isso foi antes de você ter um público e gravar o seu primeiro disco?
Elza - Sim, isso foi em 1960. Eu tinha ido com a Mercedes Batista para a Argentina. Eu fiquei um ano na Argentina comendo sanduíche de pão com pão.
UpToDate - E como foi essa experiência na Argentina?
Elza - Foi linda porque eu conheci o Astor Piazzola, conheci o Roberto Ianez e grandes cantores estrangeiros. E eu era considerada um deles. Eles mal sabiam que eu estava morta de fome e com uma porção de filhos em casa pra sustentar. Eu cantava tango e bolero para sobreviver porque o nosso empresário tinha fugido com todo o dinheiro. Eu fiquei cantando na noite argentina até voltar para o Rio.
UpToDate - Aí você voltou para o Rio e gravou o seu primeiro disco com o enorme sucesso de "Se Acaso Você Chegasse", do Lupicínio Rodrigues.
Elza - Mas ninguém sabe que a primeira música que eu gravei foi uma versão de "Mike Knife", em 78 rotações. Isso porque eles achavam que minha voz era muito americanizada. Depois gravamos "Se Acaso Você Chegasse" e, a partir daí, comecei a trabalhar outras coisas da música brasileira.
UpToDate - Essa gravação foi antes do seu primeiro disco, em 1960?
Elza - Não, gravamos os dois juntos. Só que eles queriam explorar essa qualidade de voz de norte-americana. O nome do disco era "Se Acaso Você Chegasse".
UpToDate - Depois você veio morar em São Paulo.
Elza - Eu comecei a minha carreira praticamente em São Paulo.
UpToDate - Essa era a época auge da Bossa Nova com aquele primeiro Festival da Bossa Nova, no Teatro Record.
Elza - Eu fiz muitos shows ali no Teatro Record.
UpToDate - E você se apresentava também na lendária boite Oasis, em São Paulo.
Elza - Eu nunca tinha visto tanto dinheiro na minha vida. Eu ganhava muito dinheiro lá na Oasis, lá no centro velho de São Paulo. Sabe o que eu fazia com o dinheiro? Eu guardava na calcinha e prendia com alfinete. Sempre os alfinetes me perseguindo. Enquanto isso, a minha família ficava no Rio.
UpToDate - E como foi essa passagem por São Paulo?
Elza - Olha, eu amava São Paulo de paixão. Cidade grande... Eu fui morar no Lord Palace, numa suite, coisa que eu nunca tinha visto. Na porta da boite tinham filas pra me ver. Eu tinha de fazer dois shows por noite. Todo mundo queria conhecer aquela voz rouca. Uma noite no show, até jogaram um anel de brilhante no palco.
UpToDate - Como é que você estava no meio do auge da Bossa Nova, naquele começo dos anos 60? Inclusive o teu segundo disco chamava-se "Bossa Negra" e o terceiro chamava-se "Sambossa".
Elza - Eu cheguei fazendo um movimento dentro da Bossa Nova e o Ronaldo Bôscoli achou que eu era a bossa negra. Ele dizia que eu fazia a diferença. O João Gilberto era muito meu amigo, e ia em casa tocar, até para me fazer dormir; e aquilo era muito lindo. Eu fazia parte da Bossa Nova, mas a situação foi até meio cruel porque eu fui "fazer cortina" para a Bossa Nova. Num show que eles armaram, eles não tinham ninguém para "fazer cortina" enquanto eles trocavam de roupa. Só que eu acabei roubando a cena.
UpToDate - E como eles reagiram quando viram que você estava roubando a cena?
Elza - Aí eles entraram e ficaram "fazendo cortina" pra mim. (risadas)
UpToDate - Mas parece que você não se influenciou pela Bossa Nova?
Elza - Eu tenho meu estilo próprio. Mas eu gosto da Bossa Nova. Eu acho que foi um movimento bonito. E foi através da Bossa Nova que a música brasileira chegou aos Estados Unidos e no mundo todo. Era uma coisa estranha que todo mundo achava desafinada.
A Bossa Nova teve uma grande influência e importância na música brasileira, através do Antonio Carlos Jobim e do João Gilberto, e Agostinho dos Santos... Ela teve uma influência muito positiva. Mas, eu tenho o meu estilo. Hoje, quando alguém canta como a Elza Soares, eu fico contente.
UpToDate - E em 1965, você lançou outro enorme sucesso, que não tinha nada a ver com a Bossa Nova, que se chamava "Mulata Assanhada".
Elza - Sim, e que ficou no meio da Bossa Nova.
UpToDate - "Mulata Assanhada" foi o teu maior sucesso junto com "Se Acaso Você Chegasse"?
Elza - Olha, foi "Mulata Assanhada", foi "Beije-me" e "Edmundo", que hoje é uma música que até serve para o Edmundo (o jogador de futebol brasileiro que joga no Fiorentina e foi reserva na Seleção Brasileira na Copa do Mundo da França).
Por falar nele, eu tenho uma paixão enorme pelo Edmundo, eu tenho um amor pelo Edmundo. Essa música que eu canto, "Edmundo", é a cara dele. (cantando) / Edmundo nunca sabe bem o que faz / Ele é um sujeito distraído demais / Dizem que uma noite quando em casa chegou / Antes de ir pra cama fez tal confusão /
Quer dizer, a música tem tudo a ver com o Edmundo. Eu tenho até receio de cantar porque eu tenho medo de ofender o Edmundo, de tão atual que é a música.
UpToDate - Você o conhece pessoalmente?
Elza - Conheço. Eu acho ele uma gracinha. Sabe que o Edmundo é uma pessoa muito sensível. Ele tem aquele lado rebelde, que ele não se libertou e que é um lado criança, mas ele tem sensibilidade. Ele é um ser humano explosivo demais. Ele não se segura no momento da explosão. E a imprensa marca muito e acaba marginalizando ele.
UpToDate - Qual é o teu time?
Elza - Eu sou flamenguista e não desfaço de ninguém / Dentre cinco brasileiros, seis fãs do Flamengo tem /, já dizia o Jorge Ben Jor. Olha, eu sou carioca, nasci no Rio de Janeiro, mas hoje eu acho que eu sou brasileira e não tenho terra. Tanto faz São Paulo como o Rio, ou Minas Gerais.
UpToDate - Como você vê São Paulo e Rio de Janeiro?
Elza - O Rio de Janeiro e São Paulo são os dois lugares que aqueles que vêm de outros lugares tem de passar para fazer sucesso. Se não passar por aqui (São Paulo), não vai acontecer. É obrigatório. Nós temos esses dois pólos maravilhosos.
UpToDate - Em 1967, você fez aquele show "Elza de Todos os Sambas", e então, em 1970, você foi para a Itália se apresentar no Teatro Sistina.
Elza - E fui expulsa dele.
UpToDate - Expulsa?! Mesmo cantando "Que Maravilha", do Ben Jor, e "Máscara Negra" em italiano? Por que?
Elza - Eu não sei até hoje. Fomos expulsos eu e o Mané (Garrincha).
UpToDate - Mas os italianos te receberam bem?
Elza - Muito bem. Eu fiquei morando dois anos e meio na Itália. Eu fiz um programa de samba chamado "Canta Giro". Eu não vou dizer que nesses anos que eu passei fora do Brasil eu só conheci flores não. Eu conheci coisas amargas. É muita ilusão do brasileiro sair do Brasil e dizer "eu sou e eu faço e aconteço". Isso é mentira. Você passa muita necessidade. Você passa um frio horrível porque também falta calor humano que eles às vezes parecem não ter. Eles não abrem as portas para você. É preciso ser cara dura. Mas eu, como não tinha pretensão de morar lá, fiquei na minha.
UpToDate - Valeu a pena ter ficado na Itália? Você até gravou um disco lá intitulado "Tributo a Martin Luther King", do Ronaldo Bôscoli e do Wilson Simonal. Como foi essa gravação?
Elza - Foi muito bonito. (cantando) / Sim sou negro de cor / Meu irmão de minha cor /. Mas eu tenho parentes lá, o Paulinho da Costa, que tocava comigo e com o Sérgio Mendes, quando ele chegou no Rio. Antes de fazer sucesso fora do Brasil, o Sérgio tinha um trio. Então eu recebi ele na minha casa na Itália. Mas eu também amo muito o Simonal e o Jair Rodrigues.
UpToDate - Depois, quando você voltou da Itália, em 1972, você participou daqueles lendários shows no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro. Uma época de grande efervescência cultural. Como foi aquela época?
Elza - O Teatro Opinião foi o local de todo acontecimento histórico musical. Todos os artistas hoje considerados grandes passaram pelo Teatro Opinião. O Zé Keti, Nara Leão, Maria Bethânia, todo mundo. E o meu primeiro grande show foi feito ali.
UpToDate - Quantas pessoas iam assistir os shows no Teatro Opinião?
Elza - O Teatro comportava na época quatrocentas pessoas. E ficavam de pé, quatrocentas pessoas.
UpToDate - E o nome do teu show era "Elza em Dia de Graça".
Elza - E eu raspei a cabeça para fazer esse show. Eu tenho ainda um poster do show em que eu apareço com a cabeça bem raspada com ferramentas e coisas de bronze. Tudo muito lindo, foi um show belíssimo.
UpToDate - Foi também mais ou menos nessa época que você fez uma temporada naquele famoso navio italiano, o Eugênio C. Quanto tempo você tocou lá?
Elza - Eu fiz uma tour. Eu fui para Acapulco, e levei o Mané (Garrincha) comigo, que não me deixava viajar sozinha; e voltei. Foi uma viagem muito bonita.
UpToDate - E no meio disso tudo, dava tempo de cuidar da família?
Elza - A família é a base de tudo. Se você não tem família, que base você tem? Teve muitas vezes que eu carregava meus filhos nas minhas viagens. Quando eu ficava em São Paulo, no Hotel Danúbio, tinha um garçom que se chamava Nicanor, que tomava conta dos meus filhos para que eles não chorassem e esquentava as mamadeiras na hora exata. Outro dia, eu fui almoçar num restaurante no bairro do Bixiga, e ele estava lá e me disse "eu sou o Nicanor". Eu senti um arrepio dos pés à cabeça.
UpToDate - Você encontrou muita gente boa que entrou na tua sintonia.
Elza - Sim, muita gente boa como o próprio Juscelino (Kubstchek, Presidente do Brasil), que foi o meu grande amigo. Eu fui a primeira artista popular negra, e mulher, a receber a grande medalha Cruzeiro do Sul, que o Roberto Carlos também recebeu.
UpToDate - E você também recebeu o diploma de Embaixatriz do Samba, pelo Conselho de Música Popular Brasileira da Imagem e do Som, em 1972.
Elza - Sim, ganhei do Negrão de Lima, que na época era governador. Mas eu nunca revindiquei nada. Eu acho que cada um tem o seu caminho. Então são títulos que eu tenho guardados e acumulados, que eu tenho certeza que um dia tudo isso virá à tona.
UpToDate - De quem mais você tem boas lembranças?
Elza - Do João Goulart (Presidente brasileiro), que também foi uma pessoa muito importante para mim porque foi através dele que eu ganhei esse prêmio de embaixatriz do samba. E apesar de nós já nascermos fazendo política, eu não sei fazer política. Eu acho que não tem nada a ver comigo.
Quando eu voltei de fora, no começo dos anos 90, meio perdida no espaço, eu fui convidada para ser vereadora. Eu pensei que estivesse fazendo um grande bem, me candidatei e dei votos à beça para o cara, e eu mesma que seria eleita, acabei desistindo.
UpToDate - Já que percorremos toda sua carreira praticamente até agora, eu gostaria de saber como foi a década de 80 para você?
Elza - Interessante que eu sempre tive a garotada do meu lado. Mas eu fui roqueira também. Eu trabalhei na badalada casa noturna paulistana Madame Satã com um show chamado "A Vingança Será Maligna" com os Titãs, e o Branco Mello me entregando um troféu. Quando terminava o show eu entrava numa viatura da polícia, que saia tocando a sirene pelas ruas.
UpToDate - Você sempre teve um certo espírito roqueiro?
Elza - Sempre. O Lobão diz que a maior sambista roqueira se chama Elza Soares. Se você prestar atenção, o samba tem uma batida muito forte também. Não esse samba de agora, que é mais dolente. E o brasileiro não força isso. Mas eu acho que os brasileiros deveriam conhecer melhor esse país com as suas diversas influências musicais.
UpToDate - Eu acho que demos uma ótima passada pela tua carreira...
Elza - E que não deixa de ser uma trajetória, não é?
UpToDate - Sem dúvida, uma grande trajetória.
Falar que Elza Soares é uma das maiores cantoras de samba de todos os tempos é pouco. É uma generalização que não precisa com justiça o seu grande diferencial em relação às outras e aos outros. A começar pelo instrumento vocal singular que a natureza lhe deu. Não é qualquer um que tem a qualidade de sua voz. Uma voz rouca, rasgada, de grande extensão e de tonalidade extremamente agradável.
GRANDES VIRTUDES
Além desse atributo natural (que não depende dela), Elza tem plena consciência e controle absoluto do uso dessa magnífica expressão musical. É nesse ponto que reside uma de suas grandes virtudes, o domínio da voz como quem comanda com perfeição e intimidade um instrumento musical de sopro. Não é à toa que ela toca saxofone há anos apenas para apurar a técnica de sua voz.
SABER O QUE CANTAR
Ninguém no Brasil - cantora ou cantor - consegue explorar tão ricamente os recursos vocais como ela. Elza tem a versatilidade de adequar qualquer música à sua voz, que parece ser sempre maior do que as canções que canta. Sua voz enriquece qualquer tema. É aí que entra mais uma de suas grandes virtudes, a escolha perfeita e o domínio absoluto do repertório musical. Um dos pontos mais cruciais dos intérpretes é a escolha adequada do repertório. Cantores sucumbem ou florescem pela escolha das música que cantam.
UMA CANTORA DE JAZZ
Elza Soares é a única cantora (e cantor) com essa capacidade de cantar como se tivesse água na garganta, rasgar a própria garganta, atingir agudos e graves com maestria, desenvoltura e felicidade. Colocar qualquer música pelo avesso, quebrar ritmos, sincopados, improvisar sempre, surpreender. A arte dos grandes cantores de jazz. E poucos se dedicam, ou se dedicaram tão intensamente ao samba como ela. Por essas razões, podemos afirmar sim - Elza Soares é a maior cantora de samba do Brasil. A Rainha do Samba, a Embaixatriz do Samba. O Prêmio Sharp de 1998 foi apenas constatação.
A ETERNA JUVENTUDE
Outra virtude, apenas um detalhe em sua vida e carreira, é a sua eterna juventude. Ela, que nasceu no dia 23 de junho de 1937, no Rio de Janeiro. Esta genial senhora parece ainda uma garota travessa. Uma garota de espírito que viveu muito sofreu muito e fez muito pelo samba e pela música brasileira. E continua fazendo. O samba deve muito à Elza Soares.
A HISTÓRIA DA MÚSICA BRASILEIRA
Conhecer sua história é conhecer a história da própria música brasileira - dos anos 50 aos 90. Nesta longa entrevista, conhecemos melhor essa rica história. Esta entrevista exclusiva à UPTODATE é possivelmente a maior e mais completa já concedida a um veículo de comunicação. Como o prazer da conversa foi todo nosso, queremos passar esse prazer aos nossos leitores. Uma trajetória empolgante, carregada de paixão pelo samba e pela música brasileira, que é a paixão de tanta gente. Podemos dizer que esta é uma entrevista histórica. Viva o samba e Elza Soares!
OBS: Entrevista concedida em 1998.
"Mulher guerreira,Mulher Brasileira."
Mylla Zanotti
Comentários
Não encontro ninguem que conheça.
É assim:
A lavadeira,
Desceu a ladeira,
Pra ser primeira cantora popular.
Com oito filhos pra criar,
Mais a mãe pra sustentar,
Como é que tinha a crioula que cantar e que sambar?
Conheceu alguem com sete filhas
Com.....
Com 1 sete na camisa
E entregou seu coração perdidamente.
Criticaram tanto esse romance,
Mas os dois jogaram o lane
E rolarqam a bola pra frente.
Bola pra frente, oi
Bola pra frente,
Quando a jogada É feita com amor
É diferente.
Obrigada.