A HISTÓRIA DA JOALHERIA
A arte da joalheria é uma das mais antigas artes decorativas existentes: mais de sete mil anos se passaram desde que um ancestral do homem moderno resolveu utilizar conchas e sementes como adorno pessoal. As jóias, os metais preciosos e as gemas sempre vieram ao encontro dos mais profundos sentimentos humanos: a atração por materiais raros e belos, o desejo pelo embelezamento do corpo, o status e a superstição representada pelo poder atribuído a determinadas gemas.
A história da joalheria no progresso da civilização humana compreende o trabalho, a criatividade e o talento de sucessivas gerações de artesãos ao desafio de transformar materiais preciosos em ornamentos pessoais de elevado valor artístico.
Este rico e diversificado panorama começa na Antiguidade, quando as técnicas básicas dos ourives tornaram - se mais sofisticadas: os Etruscos atingiram uma perfeição nunca antes igualada nas técnicas de filigrana e granulação em ouro assim como os gregos, durante o período Helenístico, na arte de modelar figuras humanas para compor brincos, colares e braceletes. Os luxuosos ornamentos romanos em ouro, esmeraldas, safiras e pérolas brancas marcam um grande contraste com as jóias policrômicas da Idade Média, que expressavam os ideais do cristianismo e do amor idealizado, tema central de praticamente toda a joalheria da época.
Já no Renascimento, foram criadas peças históricas decoradas com esmaltes e pedras preciosas, cujo nível artístico é comparado aos da pintura e da escultura do mesmo período: artistas como Hans Holbein, Albrecht Dürer e Benvenuto Cellini eram contratados por mecenas para desenhar peças que estimulassem os ourives renascentistas a chegar a níveis nunca antes alcançados nas técnicas de esmaltação, gravação e cravação. No período seguinte, o Barroco, a troca de estilo foi evidente, com as jóias tornando-se mais um símbolo de status social devido à grande quantidade de gemas na mesma peça em detrimento do design, que perde sua expressão artística.
As jóias do período Rococó eram assimétricas e leves, se comparadas com as do período anterior. Surgem, pela primeira vez, jóias para serem utilizadas durante o dia, mais leves, e jóias para serem usadas à noite, desenhadas especialmente para resplandecerem iluminadas pela luz dos candelabros. No período seguinte, o Neoclássico, o design das jóias adapta-se às severas linhas do estilo, que buscou inspiração nos estilos grego e romano, e que se impunha devido à simplificação do vestir e dos anos de mudanças políticas em toda a Europa e América do Norte que se seguiram à Revolução Francesa.
A história da joalheria no complexo século XIX inicia - se com as grandiosas jóias criadas para a corte do Imperador Napoleão I e que serviram de padrão para toda a Europa até à Batalha de Waterloo em 1815: os conjuntos de jóias chamados parures, compostos de tiaras, brincos, gargantilhas ou colares, e braceletes fantasticamente adornados com gemas como o diamante, a esmeralda, a safira, o rubi e a pérola, cujo esplendor sobressaía mais do que o próprio design das peças. Quase ao mesmo tempo, emergia o Romantismo, com uma volta ao design das jóias da Antiguidade e dos tempos medievais. O crescente gosto pelo luxo, encorajado por um período de prosperidade, baixos impostos e uma sociedade elitizada surgida com o boom da Revolução Industrial, foi expresso pelas inúmeras jóias guarnecidas somente com diamantes, principalmente depois da descoberta das minas da África do Sul na década de 60. Esta descoberta transformou o caráter da joalheria, que por várias décadas se concentrou no brilho em detrimento da cor, do desenho e da expressão de idéias.
Com o início do século XX, joalheiros como Cartier e Boucheron, adotaram um novo estilo, inspirado no século XVIII e chamado de Belle Èpoque, compondo jóia onde a delicadeza das guirlandas, das flores estilizadas e da utilização da platina, era uma reação à banalidade das jóias recobertas de diamantes. Por volta da mesma época, os joalheiros da corrente Art Nouveau, liderados por René Lalique, criaram furor na Exposição de Paris de 1900, com designs inspirados na natureza e executados em materiais como marfim e chifres de animais, escolhidos mais pela sua qualidade estética do que por seu valor intrínseco. Como não eram jóias práticas para uso, o estilo rapidamente desapareceu, com o início da 1ª Guerra Mundial.
Com a paz, em 1918, impõe-se na joalheria o estilo Art Decó, com seu design associado ao Cubismo, ao Abstracionismo e a arquitetura da Bauhaus, suavizado na década de 30 pelos motivos figurativos e florais reintroduzidos por Cartier. A arte da joalheria, depois da 2ª Guerra Mundial, adaptou - se a uma clientela que comprava não só para uso, mas também como investimento. A ênfase passou a ser na qualidade das gemas, perfeitamente facetadas e montadas em peças de design de acordo com a moda. A partir da segunda metade do século XX, novas idéias e conceitos, assim como novos materiais passaram a ser utilizados pelos designers, como os metais titânio e nióbio, e também diferentes tipos de plásticos e papéis, buscando novos caminhos de expressão.
Atualmente, a joalheria mundial está voltada para o design, que deve ser criativo, bem identificável e corresponder a um mercado consumidor sempre crescente e ansioso por inovações tanto nas técnicas de fabricação, quanto na expressão dos estilos e conceitos escolhidos, cabendo a todos os profissionais envolvidos, seja na produção artesanal seja na produção industrial de jóias, contribuir para a qualidade do produto final, dentro da exigência deste mercado consumidor que premia a qualidade, a criatividade e o estilo diferenciado.
*Julieta Pedrosa
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